Onda de calor no Verão fez quase 1700 mortos em Portugal

Entre 23 de Junho e 14 de Julho dispararam as chamadas para o INEM e para a Linha Saúde 24, assim como as deslocações para as urgências dos hospitais. Esta foi a quarta onda de calor desde 1981.

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A maior parte dos óbitos foi registada em pessoas com mais de 75 anos Daniel Rocha

Do número de doentes que foram às urgência, às chamadas para o INEM e para a Linha Saúde 24, vários foram os dados que indicavam que a onda de calor observada em Portugal entre o final de Junho e o princípio de Junho teria tido efeitos num excesso de mortalidade. Um relatório da Direcção-Geral da Saúde veio agora confirmar que se estima que tenham morrido 1684 pessoas na sequência das temperaturas elevadas que se fizeram sentir entre 23 de Junho e 14 de Julho, sendo que os efeitos do calor podem durar até dez dias depois de as temperaturas regressarem ao normal.

Nas últimas duas décadas, o país tinha registado apenas três ondas de calor: em 1981, em 1991 e em 2003. Na primeira morreram 1900 pessoas; na segunda, 1000; e na terceira, 1953. Para formalmente se considerar que, num determinado período, houve uma onda de calor, é necessário que a temperatura esteja acima da média para a altura do ano durante mais de seis dias consecutivos.

Os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera indicam que houve uma onda de calor entre os dias 22 e 30 de Junho, em particular na região centro, e que variou de sete a nove dias. No dia 3 de Julho veio uma nova onda de calor, que ficou até dia 13, sobretudo na região de Trás-os-Montes.

Como o fenómeno regressou, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) mandou elaborar um relatório para perceber as consequências da onda de calor e conclui que teve “um impacto apreciável na saúde da população” – corroborando os dados que o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge já tinha preliminarmente avançado na altura. Para isso foram comparados os dados deste ano com os de um outro em que não foram observadas temperaturas extremas. “O valor de referência para a mortalidade foi o período de 2007 a 2012, excluindo o ano de 2010. Para os outros indicadores, foi utilizado o período de 2012”, diz a DGS.

Mais óbitos nas mulheres no Norte
Em termos gerais, os quase 1700 mortos correspondem a mais 30% do que seria normal para aquela altura do ano. Ainda assim, por exemplo no dia 8 de Julho, a mortalidade chegou a ser 105% acima do esperado. “Em termos gerais, observou-se um excesso de mortalidade mais elevado nas mulheres (45%) em comparação com os homens (21%). Por grupo etário, apenas foram observados excessos de mortalidade significativos na população acima dos 75 anos. Abaixo deste limiar de idade, foram observados excessos de mortalidade entre os 45 e os 74 anos, que não se revelaram estatisticamente significativos.” Quanto a regiões, só o Algarve foi poupado, com um aumento de 10%. Pelo contrário, no Norte, a subida foi de 41%, e no centro de 36%.

Quando aos episódios de urgência, o relatório diz que “são semelhantes até ao início de Julho, verificando-se, a partir daí, um aumento da procura dos cuidados de urgência, que só retoma os valores de 2012 depois do dia 15 de Julho. Este aumento de procura corresponde ao período em que se verificou o maior aumento das temperaturas máximas e mínimas, de 3 a 10 de Julho. De facto, a partir dos primeiros dias de Julho de 2013, a procura foi sempre superior à de 2012”.

No geral, a procura das urgências cresceu 7,7% entre 23 de Junho e 14 de Julho em relação ao mesmo período de 2012. Contudo, registaram-se grandes assimetrias regionais, com o Alentejo a ter uma subida de 9,6%, o centro com 9,5%, o Norte com 7,5%, o Algarve com 5,8% e Lisboa e Vale do Tejo com 5%.

As chamadas para a Linha Saúde 24 (808 24 24 24) também cresceram 4,4% no mesmo período, sendo que as que foram motivadas directamente por “calor” tiveram um acréscimo de quase 47%.

Por seu lado, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) também registou mais 27,8% de ocorrências. “Salienta-se que as ocorrências designadas por ‘alteração de estado de consciência’ e ‘dispneia’ sofreram acréscimos de 42,4% e 24,6%, respectivamente”, sublinha a DGS.

“A preparação de medidas de informação e de protecção das populações, bem como a sua divulgação e activação em tempo útil, perante a previsão de uma onda de calor, é da maior importância, contribuindo, desta forma, para que sejam minimizados os efeitos daqueles fenómenos extremos na saúde e na mortalidade”, reconhece a DGS nas conclusões do relatório.
 

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