Os Boogarins são de mais

As vozes são um doce embalo que nos carrega, amparados no riff que espirala em ascensão e no refrão que se torna companhia sorridente ao primeiro encontro. Lucifernandis, a canção que abre As Plantas Que Curam, é amor à primeira vista: está salvo o Verão que já acabou. E o fascínio prolonga-se.

Os Boogarins, de Goiânia, chegaram a um lugar especial. Há neles uma naturalidade no gesto criativo e uma liberdade na assimilação dos seus heróis que sobressai canção após canção. Ouçamos como Hoje aprendi de verdade se introduz no Lazy old sun dos Kinks para contar outra história, como Errepartilha o mesmo state of the art psicadélico de névoa sónica que ouvimos nos Tame Impala, como as guitarras cristalinas se encostam no sol que ilumina a perfeição power pop de Doce (Alex Chilton exibirá um sorriso, onde quer que esteja) ou como é possível assegurar a intemporalidade do desejo de fuga de Ando meio desligado, d"Os Mutantes, convocando o espírito de Syd Barrett para uma dança e induzindo aquela sensação noutra canção, noutro tempo, com outra voz: Despreocupar é toda ela conforto primaveril e preguiça adolescente, e se os nossos dias fossem canções assim seríamos eternamente felizes.
As Plantas Que Curam

 tem dez canções e é um maná. Uma banda que se entregou à descoberta (literalmente: "fomos aprendendo a gravar enquanto gravávamos", disseram-nos) e que, guiada pela sua sensibilidade lírica e melódica e por um espírito sonhador, encontrou um mundo tão frágil quanto tocante e inspirador. É mesmo verdade: os Boogarins são de mais.

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