A última grande digressão é em 2015, mas os The Who não vão acabar aí

Na semana passada, Roger Daltrey anunciou aquilo que foi entendido como o fim. Na terça-feira, rectificou: só terminarão as grandes digressões.

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Os The Who continuam em palco, quase cinco décadas depois de My generation Foto: thewho.com

Na semana passada, um terramoto, ou, melhor, um pequeno sobressalto, talvez a confirmação de algo razoavelmente previsível, digamos, correu o mundo rock. No final de uma projecção em Londres de Sensation, filme que documenta a criação da ópera-rock Tommy, o guitarrista Pete Townshend, de 68 anos, e o vocalista Roger Daltrey, de 69, os The Who sobreviventes, anunciaram que abandonariam a carreira após a digressão que planeiam para 2015, comemorativa dos 50 anos de vida discográfica da banda.

Na quarta-feira, Daltrey rectificou as declarações à Billboard: “O que quis dizer é que já não conseguimos fazer longas digressões, mês após mês”. O que não quer dizer que os The Who desapareçam do mapa: “Vamos dar concertos. Poderemos fazer outras coisas, mais experimentais”. Daltrey e Townshend não desaparecerão decerto (ambos planeiam álbuns a solo).

Formados em 1964 em Londres, os The Who reservaram lugar para si na história do rock’n’roll no ano seguinte, quando editaram o single My generation, retrato perfeito, sónica e liricamente, da inquietude e rebeldia que moldou o género. Não ficaram, contudo, por aí. Banda feroz e incendiária em concerto (Live At Leeds é um dos melhores álbuns ao vivo da história), grupo que projectou inicialmente uma imagem que, de certa forma, foi sinónimo da sofisticação da Swinging London (eram “a” banda subcultura mod), aumentou decisivamente a sua popularidade com a edição do mais bem-sucedido álbum conceptual da história, Tommy, em 1969, atravessando a década seguinte como um dos gigantes do rock’n’roll.

Hoje, quando o “hope I die before I get old” cantado por Daltrey em My generation já foi obrigado a transformar-se por contingência etária em incitamento irónico (assim o entoa hoje o vocalista), os The Who continuam. O endiabrado baterista Keith Moon morreu em 1978, o misterioso baixista John Entwistle foi levado por um ataque cardíaco em 2002. Daltrey e Townshend prosseguiram. Editaram um novo álbum, Endless Wire, o primeiro em 24 anos, em 2006, e, desde aí, dedicaram-se a ser representantes, em palco, frente à mesa de mistura ou de montagem, do seu enorme legado.

Entre 2012 e 2013, por exemplo, viram reeditado Quadrophenia, álbum conceptual livremente inspirado nos anos enquanto jovem mod de Pete Townshend, e apresentaram-no em digressão. Agora, revêem-se no documentário Sensation, aguardam a reedição de luxo do disco cuja história o filme conta, Tommy (o lançamento está marcado para 11 de Novembro), e anunciam que, depois da digressão mundial de 2015, que passará por países que a banda deixou por visitar em 50 anos de carreira, acabou tudo. Tudo? Não. Só acabarão as longas digressões que Pete Townshend, que sofre de problemas de audição, e Roger Daltrey, que precisa de exames regulares à garganta depois da remoção de um nódulo pré-cancerígeno em 2010, já não conseguem suportar. “Poderemos decidir fazer qualquer coisa num teatro, uma pequena produção que nos prenda duas ou três semanas na mesma cidade”, explicou Daltrey à Billboard. “Isso será possível porque não andaremos a transportar os nossos corpos de cidade para cidade. O alegria do palco é maravilhosa, mas as viagens diárias são extenuantes”, concluiu.

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