Esquerda “precisa de "mais força” e “propostas concretas” para a crise, diz Francisco Louçã

Congresso internacional sobre Karl Marx.

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Francisco Louça falou num comício em Portimão Nuno Ferreira Santos

A esquerda “precisa de ter muito mais força” e de apresentar “propostas concretas” para a actual crise, defendeu hoje o ex-líder do Bloco de Esquerda Francisco Louçã.

Em declarações à Lusa, à margem do segundo congresso internacional sobre Karl Marx, que hoje terminou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanos da Universidade Nova de Lisboa, o economista e professor universitário sublinhou que as questões “emergentes” que exigem propostas alternativas de esquerda são “a alteração da dívida” e “a ruptura com a política que a União Europeia [UE] está a impor a Portugal”.

Apresentar essas propostas “implica mais trabalho”, reconheceu. “Para fazer um governo de esquerda, é preciso conseguir a maioria, ter um projecto concreto e não aceitar de forma nenhuma esta cedência à inevitabilidade das políticas de austeridade, de que António José Seguro é talvez um dos melhores exemplos”, sustentou.

“António José Seguro protesta contra tudo e aceita tudo. Protesta contra todas as medidas, garantindo que fará exactamente o mesmo, nós precisamos de uma esquerda que saiba responder pelo país”, defendeu.

Quatro anos de “ajustamento” económico passados, “o desemprego será o dobro” e o défice será “provavelmente este ano” maior do que o défice de 2011, alertou. “É uma política incompetente, que tem a certeza de fracassar, mas que quer fracassar, porque, nesse fracasso, retira salários”, criticou.

“Estamos a viver uma política em que a classe trabalhadora é metralhada”, considerou, enumerando várias “medidas de gravidade social” que acontecem no ano em que “Portugal duplica o pagamento para as parcerias público-privadas”, num valor “sete vezes” superior ao “imposto sobre as viúvas”.

Em resumo, “é uma guerra mesquinha, cínica, destruidora contra a vida das pessoas, as pessoas estão a ser roubadas, é um assalto”, considerou.

Questionado também sobre a polémica das escutas dos Estados Unidos a dirigentes europeus, Francisco Louçã frisou ser “uma vergonha o que se está a passar”.

A União Europeia (UE) tem “obrigação de defender o primado da lei”, mas “a mensagem” que enviou para os Estados Unidos, na sexta-feira, foi antes “façam o que quiserem desde que não se note demasiado”, disse.

O último Conselho Europeu discutiu o escândalo do programa de vigilância internacional dos Estados Unidos, revelado pelo ex-consultor da Agência Nacional de Segurança Edward Snowden e que inclui escutas a 35 líderes mundiais, entre os quais a chanceler alemã, Angela Merkel.

França e Alemanha anunciaram que vão realizar conversações bilaterais com os Estados Unidos sobre as relações entre serviços de informações, devendo apresentar conclusões até final do ano.

Essa mensagem “é mais uma etapa” na “decadência” e “subserviência” dos dirigentes da UE, interpreta Francisco Louçã.

Recordando que “Portugal, Espanha, Itália, França proibiram a passagem do avião de um presidente latino-americano com o qual têm relações diplomáticas, contra a lei”, Francisco Louçã afirmou que “os Estados Unidos vigiam os seus aliados, incluindo as comunicações pessoais de primeiros-ministros de vários países, contra a lei”.

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