Greve nos CTT: sindicatos e empresa em guerra de números

Sindicatos falam de adesão de 80% e a empresa contesta, garantindo que se fica por 24%.

Maioria do capital dos CTT foi vendida em Dezembro através da dispersão em bolsa PÚBLICO/Arquivo

A adesão à greve dos CTT desta sexta-feira está a gerar uma guerra de números entre sindicato e empresa. A administração acredita que o protesto vai ter impactos reduzidos graças à distribuição extraordinária de correio no sábado.

O secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações afirmou nesta sexta-feira que a adesão à greve "ronda os 80%”, tendo por base um universo de 6000 trabalhadores já analisados. Vítor Narciso acrescentou que "em Lisboa há um número significativo de estações encerradas, assim como em Leiria e Coimbra".

Para o sindicalista, o nível de adesão referido "espelha o descontentamento dos trabalhadores em relação à privatização da empresa, à perspectiva da perda de direitos e aos despedimentos”. Um descontentamento que leva o sindicato a admitir que haverá nova contestação no futuro. “Os trabalhadores estão dispostos a lutar mais”, caso o Governo não recue na venda dos CTT, disse.

No entanto, a empresa contesta os números divulgados pelo sindicato. "Não correspondem à realidade", referiu António Marques, director de recursos humanos dos CTT, garantindo que "a taxa de adesão é de 24%". O responsável assegurou ainda que "todas as 625 estações de correio estão abertas e em pleno funcionamento".

António Marques explicou que a adesão registada pela empresa "vai ao encontro das expectativas" e que a administração "teve a preocupação de antecipar a distribuição de correio na quinta-feira e vai concretizar distribuição extraordinária no sábado para salvaguardar um ou outro local que possam ser mais afectados e para que a população não sinta os impactos" da greve.

As primeiras horas do protesto foram marcadas por alguma agitação junto à central de correios em Lisboa, já que dois camiões contratados pela administração dos CTT para substituir o serviço normal foram impedidos de sair pelo piquete de trabalhadores que se encontrava no parque de estacionamento da empresa. A PSP foi chamada ao local, mas também acabou por reter os camiões, uma vez que não tinham guias de transporte.

A greve desta sexta-feira serve de arranque a uma quinzena de protestos que afectará sobretudo o sector dos transportes públicos. A vaga de contestação foi agendada contra os cortes inscritos pelo Governo no Orçamento do Estado (OE) para 2014 e na nova lei das empresas públicas.

No caso dos CTT, o foco é a privatização da empresa, que o executivo quer concretizar ainda este ano através da dispersão da maioria do capital em bolsa - uma operação que levará à transferência dos reformados do grupo para a ADSE, o sistema de saúde da função pública. Esta passagem será acompanhada do pagamento por parte da empresa de cerca de 200 milhões de euros ao Estado, que entrarão como receitas extraordinárias no OE do próximo ano.

Os sindicatos têm uma reunião agendada com o Governo na próxima terça-feira, 30 de Outubro. O secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, admitiu à Lusa nesta sexta-feira "temer" que a greve "desvalorize a empresa". “Qualquer movimento de contestação não é positivo para efeitos de valor, mas também quero deixar completamente claro que não são as greves que nos impedirão de continuar a executar aquilo que está no programa do Governo”, reforçou Sérgio Monteiro.
 
 

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