O país sentiu a sua falta… senhor engenheiro!

A frase "toda a minha vida foi passada a calcular o mal menor, na merda da política, é isso sujar as mãos” é uma forma no mínimo curiosa de resumir toda uma vida de labuta e serviço público

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Miguel Manso

A quem costuma utilizar frases tão simbólicas como “estamos sempre a aprender”, “já nada me espanta” ou ainda a célebre “desde que vi um porco a andar de bicicleta já acredito em tudo” não pode com toda a certeza ficar indiferente às declarações de José Sócrates. Para os mais esquecidos, foi o senhor primeiro-ministro que esteve “por cá” até meados de 2011 e que depois de ter sido retirado do poder pelos portugueses, rumou até Paris onde se foi dedicar… à Filosofia, (ai que já estava tudo a pensar que ele tinha ido aprender a pescar nas margens do Sena!).

Sócrates disse então à TSF, na manhã deste dia 22 de Outubro, que chegou a convidar o actual primeiro-ministro e homem que tomou o seu lugar para fazer parte do Governo — ainda antes da “sova” eleitoral mais do que prevista que haveria de determinar a sua fuga para os pensares da Grécia e da Roma antiga, nos claustros da Sorbonne — mas que o mesmo não terá aceite em função da sede de poder e que a vontade de Passos era correr… com “o filósofo”.

Terminada a parte introdutória, vamos lá ao que interessa (julgo eu).

Passaram dois anos, o homem voltou a Portugal, ao comentário político e agora, quando no habitual ping-pong entre PS e PSD se trocam as acusações do costume entre quem nasceu primeiro, se o ovo se a galinha, eis que o “filósofo” — que podia bem ser a alcunha de Sócrates se enveredasse pelo mundo dos mercenários, dos assassinos a soldo ou até mesmo da pirataria informática, uma vez que todos estes têm sempre alcunhas um tanto ao quanto desadequadas com aquilo que na verdade são as suas práticas e características físicas/intelectuais — volta à carga com uma entrevista feérica ao semanário "Expresso".

O que quer então agora José Sócrates?

1. Não cair no esquecimento (pensou mesmo que alguém se iria esquecer de si?);

2. Aproveitar a exposição mediática que o(s) cargo(s) que ocupou neste país (bem como as lembranças que deixou, tantas e tão saudosamente recordadas) lhe granjeiam e assim catapultar o lançamento, em livro, da sua tese de mestrado centrada na questão da tortura.

Mas voltemos à entrevista a ao modo de estar e de cogitar de um mestre em Filosofia, português, da Covilhã (temos mesmo de louvar os nossos portugueses espalhados pelo mundo).

Bem sei que foram dois anos passados em Paris, no centro intelectual e artista do velho continente, e fiquei radiante por perceber que Sócrates não deixou os seus créditos por mãos alheias e rapidamente se apropriou de palavras novas, muito queridas aos "avecs", como “bandalho”, “filho da mãe”, “pulhas” que, como todos nós bem sabemos, especialmente porque temos uma lendária tradição na emigração para França, são palavras que os franceses usam regularmente no seu vocabulário.

Pelo meio, qual Chuck Norris, ainda encheu o peito de ar, como o fazem os rufias de bairro, para chamar “pulha” e “filho da mãe” ao ex-ministro das Finanças da Alemanha (É de homem hein? Basta sair de Portugal por uns tempos para começarmos logo a agir como homens, de peito feito, sem medo de ninguém, a la Valentim Loureiro).

Disse-nos que nunca imaginou uma vida como teve em Paris durante o tempo em que esteve a estudar (engraçado, eu também não, aliás ninguém, ou poucos de nós, portugueses alfabetizados, conseguimos imaginar o que é viver em Paris… sem nunca termos lá vivido. Passa-se o mesmo com o viver… na Lua).

Mas o que realmente impressiona é aquela capacidade de falar dos portugueses… e de si mesmo, quase que confundindo as duas grandezas.

A frase "toda a minha vida foi passada a calcular o mal menor, na merda da política, é isso sujar as mãos” é uma forma no mínimo curiosa de resumir toda uma vida de labuta e serviço público.

Contou-nos — e esta é uma das grandes “mestrias” do “filósofo”, o conto, o superior domínio da oratória — que à época nem percebeu bem o que era “aquilo” do BPN (nós, portugueses, também não sabíamos e acabámos por ser condenados a pagar mais de três mil milhões de euros) e achou que nacionalizar o banco era a solução mais adequada.

Bom, agora é consigo, leia o livro, ou não, veja se já há o canal do “filósofo” no MEO ou na ZON e divirta-se!

Porque a verdade deve ser dita, sempre, doa a quem doer, digo-vos que já tinha saudades destas épicas formas de demonstrar cabalmente QUEM MANDA AQUI… como só Sócrates — o político — sabe fazer! Ainda lhe vão pedir que volte… para onde é que ainda é cedo para se perceber.

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