Monti demite-se do seu partido por causa do Orçamento italiano

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FILIPPO MONTEFORTE/AFP Bombeiro numa manifestação em Itália esta sexta-feira contra o Orçamento

O ex-primeiro-ministro italiano Mario Monti demitiu-se esta sexta-feira do partido que fundou, a Scelta Civica, devido a tensões em torno do Orçamento de Estado de 2014. O partido faz parte da coligação governamental e a saída de Monti é mais uma ameaça à estabilidade italiana.

Monti saiu dizendo-se “traído”, porque um grupo de senadores da Scelta Civica (Escolha Cívica, um partido centrista) rejeitou as suas críticas ao Orçamento, pondo assim em causa a liderança da formação formada para disputar as eleições no início deste ano.
O Orçamento foi dado a conhecer na terça-feira e tem estado sob ataque tanto dos patrões como dos sindicatos, e não só pela oposição. Também figuras gradas da coligação de esquerda, direita e centro que forma o Governo dirigido por Enrico Leta (Partido Democrata, centro-esquerda) se pronunciaram contra o documento, que prevê um crescimento de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 ou 2016, após vários anos de recessão.
“Quisemos ser realistas, não quisemos insuflar as esperanças”, comentou o ministro das Finanças, Fabrizio Saccomani. O governante confirmou que Itália prepara um plano de privatização de imóveis e de venda de participações em empresas públicas, mas não avançou mais detalhes.
O primeiro-ministro tinha criado expectativas de que este Orçamento iria conseguir inverter a política de austeridade, provavelmente até baixar os impostos, mas as medidas ficaram aquém das expectativas. O congelamento do aumento de salários e pensões continua em vigor.
Mario Monti concorda com as críticas: diz que a este Orçamento faltam cortes nos impostos e também reformas estruturais para dar fôlego à economia.

Esta sexta-feira começaram já greves. Nas ruas estiveram funcionários públicos, trabalhadores hospitalares e dos transportes. Itália prepara-se para um fim-de-semana de contestação contra o congelamento de salários no sector público e a manutenção de uma política fiscal que penaliza o trabalho por conta de outrém, relata a Reuters. Grupos anarquistas e de extrema-esquerda preparam-se para acampar em frente da Basílica de São João, um dos locais preferidos para as manifestações em Roma.

Susanna Camusso, secretária-geral da maior central sindical italiana, a CGIL, anunciou esta sexta-feira estar em conversações com duas organizações congéneres para organizar uma greve nacional contra o Orçamento.

Aproveitando este grande movimento de contestação, o outro partido da coligação governamental, o Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi, está outra vez a organizar-se para tentar deitar o Governo abaixo outra vez, diz o jornal de esquerda L’Unita.
Estão assim criadas as condições para que o Orçamento sofra grandes modificações quando passar pelo debate parlamentar. Prevendo isso, o Presidente Giorgio Napolitano avisou contra os riscos de desbaratar o que a Itália conseguiu conquistar até agora.
“Está certo colocar maior ênfase no crescimento, tanto na Itália como na Europa. Mas não se pode imaginar que deixou de existir necessidade de consolidar as finanças públicas”, observou Napolitano. O Presidente recordou que Itália conseguiu este ano deixar a lista negra da União Europeia de países com défices orçamentais acima de 3%, e que é importante que assim permaneça. 

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