Jornalista próximo de Edward Snowden sai do Guardian para fundar novo site

O norte-americano Glenn Greenwald tem revelado os segredos da espionagem dos EUA e do Reino Unido no jornal britânico, mas decidiu criar uma nova redacção, "muito bem financiada" por um filantropo ainda desconhecido.

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Greenwald entrevistou Snowden em Hong Kong Reuters

O jornalista norte-americano Glenn Greenwald, principal responsável pela divulgação dos programas de vigilância da Agência de Segurança Nacional dos EUA, vai sair do jornal britânico The Guardian para liderar "um projecto de media muito bem financiado", em que "quase nenhum jornalista se recusará a participar".

Num texto publicado no blogue GGSideDocs, Greenwald explica que a sua decisão não foi motivada por qualquer mal-estar no The Guardian.

"A minha parceria com o Guardian tem sido extremamente proveitosa e enriquecedora: tenho grande estima pelos editores e jornalistas com quem trabalhei e sinto-me incrivelmente orgulhoso de tudo o que conseguimos fazer", sublinha Greenwald.

A decisão de sair do jornal britânico "não foi fácil", mas o norte-americano diz que foi posto perante "uma oportunidade de sonho, que só aparece uma vez na vida e que nenhum jornalista poderia recusar".

Os pormenores do novo projecto ainda não são conhecidos – Glenn Greenwald diz apenas que serão divulgados "muito em breve". Com base numa "fonte familiarizada com o projecto", o site Politico avança que terá como suporte principal a Internet e que será financiado por um filantropo.

Até agora não é conhecido publicamente nenhum nome ligado ao projecto, para além do próprio Glenn Greenwald, e o site BuzzFeed – que deu em primeira mão a notícia da saída do jornalista norte-americano do The Guardian – avança que o porta-voz do magnata George Soros negou a existência de contactos entre ambos.

Greenwald, de 46 anos e residente no Rio de Janeiro, disse ao BuzzFeed que o seu papel no novo projecto irá para além do de repórter. "A minha função será criar toda a redacção a partir do zero, contratando jornalistas e editores que partilhem os mesmos princípios, à imagem do tipo de jornalismo que eu mais respeito."

O próprio jornalista revelou ainda que o novo projecto será generalista, com notícias de desporto e entretenimento, entre outros temas. "Quando as pessoas souberem do que se trata, quase nenhum jornalista se recusará a aceitar o convite", afirmou.

Guardian lamenta e deseja sorte
Do lado do jornal britânico The Guardian, a porta-voz Jennifer Lindauer lamentou a saída do jornalista norte-americano, mas desejou-lhe "toda a sorte" no seu novo projecto.

"Glenn Greenwald é um jornalista notável e foi fantástico trabalhar com ele. O nosso trabalho em conjunto no último ano demonstrou o papel crucial que o jornalismo de investigação pode ter na responsabilização das pessoas que estão no poder. É claro que estamos desapontados com a decisão do Glenn, mas percebemos o fascínio da função que lhe foi proposta", lê-se no comunicado do jornal britânico.

Advogado de formação e autor de três livros que figuraram na lista dos mais vendidos do The New York Times, Greenwald começou a sua colaboração regular com o Guardian em Agosto de 2012, depois de quatro anos no site Salon.com.

Activista da defesa das liberdades cívicas e especialista em assuntos de segurança interna norte-americana, atingiu o ponto mais alto da sua carreira no início de Junho de 2013, ao revelar no The Guardian – juntamente com a realizadora de documentários Laura Poitras – a primeira história baseada nos documentos obtidos pelo antigo analista informático Edward Snowden.

Os pormenores do programa Prism foram também contados pelo jornalista Barton Gellman, no The Washington Post, mas desde então Greenwald tem sido o mediador de eleição de Edward Snowden, afirmando que só ele e Laura Poitras têm "acesso a todos os documentos" recolhidos pelo antigo analista da NSA.

A direcção do The Guardian tem gerido a publicação dos documentos sobre a espionagem norte-americana e britânica à medida dos seus critérios jornalísticos, mas Glenn Greenwald já deu mostras de ter outros objectivos, ao colaborar com o jornal O Globo, no Brasil, e prometendo revelar informações em breve no francês Le Monde.
 
 

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