Não é um sonho: em Londres, há uma biblioteca de discos de vinil

The Vinyl Library é uma biblioteca sem fins lucrativos que vive das doações do público e de trabalho voluntário. Elly Rendal e Sophie Austin querem ver agora este projecto replicado pelo mundo

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Já lhe chamaram a biblioteca mais "cool" de Londres — e é bem capaz de ser verdade. The Vinyl Library é, como o nome inglês indica, uma biblioteca que em vez de livros tem vinil. Aqui quem quiser pode passar uma tarde a ouvir música sem pagar mais por isso; se os dois ouvidos não chegarem para tanto disco, pode-se prolongar o ritual em casa. Afinal, "ninguém estabelece uma boa relação com um disco se o ouvir só durante 15 minutos ou meia hora".

Palavras de Eleanor Rendall ao jornal português "i". Elly, como é conhecida, é uma das melómanas por trás deste espaço aberto em Julho em Stoke Newington, no norte da capital inglesa. Juntamente com Sophie Austin, decidiu abrir esta biblioteca pública sem fins lucrativos que vive das doações do público e de trabalho voluntário. Aqui, tal como em tudo, a necessidade aguçou o engenho. Ambas são DJ, passam UK Garage e queriam ter mais discos, relatou Austin ao britânico "Guardian". "Não tínhamos orçamento para comprar uma colecção totalmente nova, já não há vinil nas bibliotecas e temos gostos bastante eclécticos, por isso pensámos: "Não seria óptimo ter uma biblioteca de vinil?"

Meu dito, meu feito. Três meses depois, os seis mil fãs no Facebook provam que a The Vinyl Library foi bem recebida. Por uma libra, pode-se integrar esta biblioteca comunitária; por dez libras por mês, pode-se requisitar os discos que se quiser — cinco, no máximo, de cada vez. Quem doar discos, não paga nada. Apesar de serem solicitados alguns dados biográficos, há sempre um risco: e se os discos não forem devolvidos? "Esperamos que as pessoas sintam que é uma colecção partilhada e que a respeitem", admitiu Elly ao "Guardian".

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"Tem sido extremamente positivo", garante Elly, num curto e-mail enviado ao P3. "Tocou no coração de muita gente e todos estão a contribuir para a ideia. Até agora, tudo o que esperávamos está a funcionar." Os álbuns continuam a ser doados — até de Nova Orleães já chegaram alguns — e a caixa de correio está sempre aberta para receber novas encomendas. Oito mil já estão espalhados pelas prateleiras. Paralelamente, há aulas de mistura e sessões de cinema porque uma biblioteca não é só feita de livros ou de discos. Há sempre algo mais para conhecer, como assumiram ao "i": "Gostamos de vinil mas temos muito a aprender. Uma biblioteca é o melhor sítio para o fazer. Como as bibliotecas de livros, esta também nunca vai estar completa, vai haver sempre algo mais a adicionar à colecção."

Os próximos passos serão conseguir financiamento para assegurar o espaço e replicar a ideia noutras cidades e países. Ao "Guardian", descreveram-se como "cobaias". Têm "fé" que uma biblioteca comunitária resulte. Tudo por amor à música e ao vinil: "O Soulseek é frio. Fazes download das músicas e não sabes a história por detrás delas, ao passo que segurar em algo [o disco], ver o 'artwork', observar a capa, ler as datas é maravilhoso." Estão "optimistas", garante, ao P3, Elly. "Isto funciona, as pessoas querem. Mas é preciso muito trabalho e muita dedicação para concretizar sonhos como este. Queremos crescer e, quem sabe, atravessar mares — talvez Portugal seja o próximo?"

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