Frankfurt não é só uma grande festa

Este sábado, um alemão e um brasileiro falaram sobre a ausência de Paulo Coelho na feira do livro. Balanço da presença brasileira em Frankfurt passou também pelo incisivo discurso de abertura do escritor Luiz Ruffato.

Foto
À entrada do pavilhão do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt Boris Roessler/AFP

Paulo Coelho, que cancelou a sua ida a Frankfurt depois de ter sido escolhido para integrar a comitiva oficial de 70 escritores do país convidado por não concordar com as escolhas da curadoria, não esteve na cidade mas foi como se estivesse.

A sua fotografia está em todos os autocarros que transportam os editores, jornalistas, autores, livreiros e visitantes, de uns pavilhões para os outros dentro do gigantesco recinto onde se realiza a feira. Com a mensagem: “Paulo Coelho, autor brasileiro de best-sellers. 150 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Traduzido em 80 línguas e mais de 170 países. Sigam-me no Facebook e no Twitter”.

Todos os dias correm rumores de que ele aparecerá na feira e neste sábado, na conferência de imprensa de balanço da presença brasileira na edição que termina neste domingo, tanto o director da feira, Juergen Boos, como o presidente da Fundação Biblioteca Nacional brasileira, Renato Lessa, tiveram de responder a perguntas sobre o ausência de “o Mago” (título da biografia que Fernando Morais, que também não está em Frankfurt, escreveu sobre o autor de O Alquimista).

“Ele é o escritor de maior sucesso no Brasil, lamento a sua ausência”, disse Renato Lessa. “Do ponto de vista da publicidade, foi uma boa ideia ele não vir porque tivemos uma cobertura na imprensa maior — e ele também [risos] — e houve grandes discussões”, desvalorizou Juergen Boos. O director é amigo do escritor brasileiro, falou com ele nas últimas semanas, percebe as suas posições e assegurou que Paulo Coelho estará na feira no próximo ano a promover o Brasil.

Sobre outro dos assuntos polémicos desta feira, o discurso que o escritor Luiz Ruffato fez na cerimónia de abertura e que não deixou ninguém indiferente, recebendo parabéns de uns e desagravos de outros, Renato Lessa considerou: “É uma versão do Brasil. Acho que a literatura representa, antes de tudo, a literatura. Ela não representa a realidade porque ninguém sabe o que é realidade. Temos versões de realidade e o discurso de Ruffato é prova dessas várias formas de ver o Brasil.”

Boos, que conhece bem a obra do brasileiro, considerou ter sido uma óptima escolha. “Vocês não escolheram Luiz Ruffato para o discurso por acaso. Queriam mostrar o que o Brasil é e, nos seus livros, Ruffato descreve muito bem a sociedade brasileira. No discurso falou dessa sociedade enquanto falava sobre ele e sobre como a leitura o transformou num escritor. É uma história de sucesso. A Feira do Livro de Frankfurt não é só uma grande festa. Há outras razões para estarmos aqui.”

Sugerir correcção
Comentar