David Byrne também critica serviços de streaming

Serviços como o Spotify voltam a ser postos em causa devido ao seu modelo de negócio.

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David Byrne em 2009 João Henriques

Se existe alguém que nos últimos anos tem reflectido sobre as transformações da indústria da música é David Byrne – basta ler o seu livro How Music Works (2012). Talvez por isso sempre que se debruça sobre o assunto, seja ouvido com atenção.

Sexta-feira num texto publicado no The Guardian, argumenta que serviços como o Spotify podem servir as grandes editoras, os consumidores e os artistas já instituídos. Mas o problema são os emergentes.

E não está só nesta análise. Depois de Thom Yorke (Radiohead), dos americanos Black Keys ou da cantora Aimee Mann, há cada vez mais músicos a criticar os serviços de streaming, com o argumento de que criam imobilidade na cena musical em vez de contribuírem para a sua verdadeira dinamização.

Serviços como o Spotify, na visão de Byrne, não são modelos de futuro, acabando por contribuir para manter o estado de coisas, servindo apenas as editoras com grandes catálogos e os artistas já com uma carreira de sucesso.

“No futuro se os artistas dependerem exclusivamente das receitas geradas por esses serviços ficarão sem trabalho rapidamente", escreve. É verdade que alguns músicos têm outras fontes de rendimento – como os concertos – e outros estão num patamar em que podem tocar para um número razoável de pessoas porque alguma editora acreditou neles no passado, argumenta o ex-Talking Heads, mas o caso dos emergentes é diferente. Muitos desses artistas não chegaram ainda ao ponto em que podem sobreviver dos concertos e dos licenciamentos, sendo por isso muito duvidoso, segundo Byrne, que possam vir a viver apenas do modelo de negócio implementado pelos serviços de streaming de música.

Um argumento semelhante ao de Thom Yorke, que contestava o modelo de negócio praticado pelo Spotify – na generalidade, os serviços de streaming oferecem aos artistas menos de 0,5 cêntimos por audição, o que significa que os novos raramente conseguem auferir receitas significativas, necessitando de ser ouvidos milhares de vezes para alcançarem proveitos.

Existem artistas que olham para serviços como o Spotify como uma forma acessível de disseminar e dar a conhecer a sua música. Mas até neste ponto Byrne tem dúvidas, argumentando que existem outras formas de ouvir a música antes de decidirmos comprá-la, seja nos sítios da Internet dos artistas, no Bandcamp ou até na Amazon.

Mas, diz ele, o meio mais adequado para descobrir novos artistas é o boca-a-boca – “é quando alguém nos fala de determinado artista ou lemos sobre ele que temos vontade de o descobrir" e não quando navegamos num serviço de streaming.

 

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