Noruega vai financiar estudo sobre o impacto da crise na saúde mental dos portugueses

Primeiro relatório com números sobre saúde mental divulgado no Porto.

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Vinte e dois hospitais já fiscalizados não afixaram a informação sobre os direitos dos utentes Daniel Rocha

A rede de cuidados de saúde mental em Portugal parece estar a responder ao tratamento das perturbações psiquiátricas mais graves, mas o mesmo não está a acontecer com as perturbações ligeiras e moderadas, admitiu ontem o coordenador do Programa Nacional de Saúde Mental (PNSM), Álvaro Carvalho.

 O psiquiatra comentava no Porto os únicos dados disponíveis sobre a prevalência de perturbações mentais, que já têm vários anos (são de 2008) e que agora vão ser actualizados, de forma a perceber-se o impacto da crise em Portugal.

Um projecto apresentado ao Governo norueguês, que será “posto em campo assim que o dinheiro chegar”, vai permitir “replicar” esta investigação na amostra já inquirida, de forma a perceber-se se “as mesmas pessoas apresentam alterações no seu padrão de saúde mental com a crise”, explicou Álvaro Carvalho .

Os dados já disponíveis (incluídos no relatório Saúde Mental em Números, hoje apresentado) indicam que só 16,2% das pessoas com perturbações mentais ligeiras e 33,8% das que sofrem de perturbações moderadas estavam a ser tratadas. Nas perturbações depressivas, e no primeiro ano após as queixas, 35,3% dos doentes tinham cuidados clínicos, enquanto nas perturbações de ansiedade, as mais comuns, apenas 12,7% das pessoas estavam a ser acompanhadas. “O não tratamento adequado das situações pode levar a que evoluam para situações mais graves”, avisa, a propósito, o psiquiatra.

De resto, já se sabia que Portugal apresentou a taxa de prevalência mais elevada de perturbações mentais (22,9%) dos oito países da Europa que integraram o painel do estudo World Mental Health Survey Initiative, da OMS, realizado em 2008, mas cujos resultados definitivos só foram publicados há duas semanas. O coordenador do PNSM nota, a propósito, que a maior parte (16,5%) são perturbações de ansiedade e que, neste conjunto, há uma parte importante de fobias, que não produzem incapacidade significativa. Seja como for, Portugal continua nos lugares cimeiros do consumo de medicamentos psicotrópicos nos países da UE, mas, a este nível, os especialistas estão preocupados com a elevada taxa de prescrição de benzodiazepinas (ansiolíticos, sedativos e hipnóticos).

Outro problema destacado no relatório é o da alteração do padrão do consumo de álcool entre os jovens portugueses, que bebem cada vez mais cedo, quase só aos fins-de-semana e muitas vezes com intenção de intoxicação rápida (binge drinking).

Com base num inquérito feito em 2010 sobre os comportamentos em saúde entre as crianças de idade escolar (Health Behaviour in School-aged Children), o relatório refere que 26,4% com idade igual ou inferior a 11 anos já tinha experimentado bebidas alcoólicas. Álvaro Carvalho voltou a defender a mudança da lei do álcool, que ainda recentemente foi alterada, sublinhando que o consumo de cerveja e vinho também só deveria ser permitido a partir dos 18 anos.

Para o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, a principal lacuna na área da saúde mental é a “escassez de desenvolvimento [nos] cuidados continuados”. O governante anunciou, a propósito, que vai ser inaugurada em Novembro a primeira unidade para pessoas com demência, em Fátima.

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