Fugas de informação causam mal-estar no CDS e PSD

Notícia do corte de pensões de sobrevivência está na origem de nova tensão na maioria governamental.

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O vice-primeiro-ministro e Maria Luís Albuquerque estão na lista dos comunistas Enric Vives-Rubio

A notícia divulgada no domingo sobre o corte de pensões de sobrevivência provocou mal-estar no CDS, depois de Paulo Portas não ter referido a medida na conferência de imprensa quatro dias antes, e está de novo a causar tensão na maioria.

Ao que o PÚBLICO apurou, o vice-primeiro-ministro não esperava uma fuga de informação, como aconteceu na TSF, no domingo, sobre a medida cujos contornos, segundo os centristas, não estavam ainda definidos, apesar de já estar acordada com a troika na oitava e nona avaliações. Ainda para mais porque no CDS se acredita que a fuga de informação veio do Ministério das Finanças.

A notícia de domingo pôs em xeque a palavra do vice-primeiro-ministro, que não fez referência a qualquer corte de pensões de sobrevivência na conferência de imprensa da passada quinta-feira, ao lado da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e do secretário de Estado de acompanhamento das medidas da troika, Carlos Moedas.

Paulo Portas referiu apenas que haveria “pequenas e médias poupanças” para o Estado, mas não adiantou mais medidas para lá das que já eram conhecidas. Por outro lado, referiu o corte nas rendas excessivas na energia, medida que parece ter surpreendido a própria ministra, que estava ao seu lado.

No plenário de quarta-feira, durante as declarações políticas, PCP e BE confrontaram a maioria, sobretudo o CDS, com o corte nas pensões de sobrevivência e com a atitude de Paulo Portas. Só  o deputado João Almeida se levantou para defender o partido, o PSD ficou em silêncio. O incómodo foi indisfarçável.

Esta quinta-feira, mais uma fuga de informação levou o CDS a reagir. Segundo o Diário Económico, a ministra das Finanças quer avançar com uma proposta de corte de 15% das subvenções vitalícias dos titulares de cargos políticos.

João Almeida, que é porta-voz do partido, veio fazer uma proposta mais radical: a suspensão total das subvenções. Disse falar a título pessoal, mas apontou o alvo à proposta de Maria Luís Albuquerque.

“Numa altura em que se pedem tantos esforços a muitos portugueses, muitos portugueses que têm rendimentos baixos, em que esse esforço é necessário para a consolidação das contas públicas, não faz sentido que o que se peça aos ex-políticos seja apenas um esforço de 15%”, afirmou João Almeida, que é também vice-presidente da bancada.

O desencontro entre o PSD e o CDS foi assinalado pelo BE. Pedro Filipe Soares, líder parlamentar, relembrou que (tal como o PCP) o partido sempre foi contra a atribuição deste tipo de subvenções. E votou a favor em 2005, quando a lei foi revogada, enquanto o CDS se absteve. “Curioso é que o CDS aparece agora com uma posição radical, de puro ilusionismo, naquela que tem sido uma semana de terror para o CDS”, afirmou, referindo-se à “falta de palavra do líder” e ao facto de “ter ficado na mão do PSD” ontem no plenário.

Ao propor a suspensão total das subvenções vitalícias dos políticos, o CDS “está a tentar tapar outra medida draconiana”, acusou o bloquista, referindo-se aos cortes nas pensões. Já sobre os cortes nos salários dos funcionários públicos, Pedro Filipe Soares desafiou o líder do CDS a dizer o que vai fazer, "sob pena de a sua palavra, que já pouco vale, passe a valer lixo".

Montenegro nega problemas entre bancadas do PSD e CDS

À entrada para a reunião da bancada do PSD - que hoje conta com Passos Coelho -, o líder do grupo parlamentar negou qualquer mal estar no Parlamento entre os dois partidos da maioria. "Isso é uma invenção, não há qualquer problema, há uma articulação total entre bancadas", afirmou Luís Montenegro, desvalorizando ainda o facto de a reunião ser apenas com os deputados do PSD.

Segundo Luís Montenegro, a reunião com a bancada não é sobre o Orçamento do Estado, mas sim a análise da situação política. Lembrando que Passos Coelho vem acompanhado do presidente da comissão permanente do partido, o líder da bancada do PSD considerou que o encontro é realizado com "total normalidade". 

 
 

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