O país perguntou. Mas quantas respostas obteve?

O povo é melhor a fazer diagnósticos do que a perguntar. Isso permitiu a Passos Coelho fazer o seu espectáculo de genro favorito de todas as sogras.

O que deveríamos esperar de O País Pergunta?

Fundamentalmente, vimos isto. O primeiro-ministro enfrentou uma amostra do país. Muitos intervenientes confrontaram Passos Coelho com visões duras da realidade. Era o povo versus o primeiro-ministro. Só que o povo é melhor no diagnóstico do que a formular perguntas.

Por isso, o primeiro-ministro conseguiu fazer o seu one man show, num formato que se adapta que nem uma luva ao seu estilo de genro favorito de todas as sogras.

Não porque a RTP tenha usado mal este modelo dos chamados Town Hall Meetings. As pessoas fizeram as suas perguntas e a lógica, em termos de cidadania, deste tipo de formatos, é precisamente o de permitir um acesso directo de cidadãos a quem governa, contornando a mediação jornalística. Os cidadãos estariam para os jornalistas um pouco como os independentes (que Passos Coelho não quer ver no Parlamento) estão para os militantes partidários.

Numa visão romântica da comunicação, estes formatos permitem trazer ao de cima a “verdade pura” do povo e superar os vícios do jornalismo. Na verdade, eles evidenciam a necessidade do escrutínio jornalístico e, sobretudo, do escrutínio jornalístico especializado.

Em tempo de crise, pode ser interessante ouvir o que as pessoas têm a dizer. Mas não é por acaso que este formato funciona bem em campanhas eleitorais e mal fora delas. Quando os cidadãos interrogam dois ou mais candidatos, a competição nas respostas introduz a dinâmica que faltou nesta quarta-feira à noite.

Sim, o país perguntou. Mas quantas respostas ouviu?
 

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