Quem ganha, quem perde

Antes de se pensar em obras públicas grandiosas como pontes e túneis, ou construções populistas e dispendiosas para a cidade é fundamental pensar nas necessidades reais da população

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Enric Vives-Rubio

Moreira e Costa ganharam, Menezes e Seara perderam. Dizem que o PS saiu vitorioso e o PSD foi castigado.

Depois do rescaldo das eleições e do sabor da vitória, por trás do jogo político, do populismo nas campanhas de rua, dos "placards", dos hinos e "slogans" cativantes, acima de tudo, o que importa para a cidade são as propostas definidas pelos autarcas para os próximos quatro anos. Muitas serão cumpridas, outras ficarão a meio e outras na gaveta das falsas promessas.

São as propostas e projectos e a capacidade e honestidade para os cumprir, que realmente definem o candidato, e que a maioria de nós se esquece de prestar atenção antes de ir às urnas. O que passa realmente é a cara sorridente estampada nos "placards" (com boa ou não edição no Photoshop), fica o apoio daquela figura importante, ou o arraial com o Tony Carreira e o porco-no-espeto, ou a simples “passa-palavra” que influenciam a decisão e definem a cruzinha no dia da eleição.

Na realidade, o que se assiste durante a campanha política acaba por ser uma espécie de “venda” da imagem do candidato, sendo esta mais importante do que aquilo que ele pretende para a cidade.

No entanto, o fundamental é que não sejam esquecidas as propostas, principalmente aquelas que estão relacionadas com o bem-estar da população, com a qualidade de vida e a vivência da cidade.

Antes de se pensar em obras públicas grandiosas como pontes e túneis, ou construções populistas e dispendiosas para a cidade é fundamental pensar nas necessidades reais da população.

Medidas e propostas que os autarcas tendem a esquecer e a tomar como secundárias são principalmente relacionadas com as questões urbanísticas e ambientais, de recuperação e reabilitação urbana e da valorização do espaço público. Medidas como a melhoria e criação de espaços culturais para a cidade, a requalificação urbanística de espaços e bairros socias degradados, a redução das emissões de CO2, a criação de uma rede de hortas urbanas, a criação de mais espaços públicos verdes fundamentais para a cidade, etc.

Continuamos a ver um pouco por todo o país uma grave incoerência relativamente à politica urbanística relacionada com a especulação imobiliária e a atribuição do espaço público da cidade a privados, muitas vezes em total desrespeito com o Plano Diretor Municipal, casos como o do Parque Mayer e da Feira Popular, ou do bairro de Alcântara em Lisboa, ou o Bairro do Aleixo, o Mercado do Bolhão e o Rivoli no Porto.

Estes, entre outros, precisam de ser repensados e considerados a nível da importância que possuem para a valorização dos meios urbanos e da sua identidade e vivência. São no fundo estes espaços públicos e culturais que caracterizam e dão vida à cidade.

Se os deixarmos morrer ou os passarmos para mãos de privados vamos estar a retira-los à cidade e ao uso público, a descarateriza-la, a torna-la vazia de sentido e de memória, destruindo muitas vezes a sua própria identidade.

Seria importante relembrar aos autarcas agora eleitos quais são realmente as propostas que contribuem para a valorização e enriquecimento da cidade e dos seus habitantes.

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