Buscas retomadas em Lampedusa, imigração na agenda europeia

Itália reclama solidariedade europeia e prepara-se para mudar lei que trata da mesma forma imigrantes e "passadores".

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Guarda Costeira mantém buscas para tentar encontrar corpos ALBERTO PIZZOLI/AFP

O número de migrantes mortos no naufrágio da semana passada ao largo da ilha italiana de Lampedusa subiu para 235. O balanço final deve ultrapassar os 300.

“Esperamos terminar hoje, até porque as condições meteorológicas são boas”, disse na segunda-feira à AFP o comandante da guarda-costeira, Filippo Marini.

A operação de recuperação dos cadáveres, que fora suspensa na sexta-feira devido ao mar agitado, foi retomada na manhã de domingo. Na embarcação, proveniente da Líbia, viajariam quase 500 migrantes, na sua maioria oriundos da Eritreia e da Somália. Só 155 foram resgatados com vida.

Nesta segunda-feira, os mergulhadores tencionavam concentrar-se na parte de trás da embarcação e no porão – onde se calcula que viajassem os migrantes que pagaram valores mais baixos para serem transportados para a Europa.

A tragédia de Lampedusa colocou o assunto na agenda europeia. A pedido da Itália, a imigração vai se discutido na reunião de ministros do Interior, prevista para terça-feira, no Luxemburgo. Desde o início do ano afluíram ao país cerca de 30 mil migrantes, quatro vezes mais do que em 2012.

Na quarta-feira, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, visitará Lampedusa para “prestar homenagem às vítimas e expressar solidariedade e gratidão aos habitantes”. Num comunicado, afirmou, sem concretizar, que a Comissão “na medida das suas competências [continuará] a trabalhar sobre medidas e acções concretas”.

A Itália, mas também a Grécia e a Espanha, reclamam mudanças que permitam uma gestão mais partilhada dos pedidos de asilo, o que obrigaria a alterações nas regras actuais, que determinam que os requerimentos sejam feitos no país de entrada. Em discussão poderá estar também o reforço do controlo costeiro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Laurent Fabius, anunciou no domingo que o Governo de Paris pode levar a questão da imigração à próxima reunião do Conselho Europeu, nos próximos dias 24 e 25. “O Mediterrâneo não pode ser um imenso cemitério a céu aberto. É preciso agir”, disse.

Em Itália, o primeiro-ministro, Enrico Letta, associou no domingo o aumento do afluxo de migrantes à Europa à falta de controlo das fronteiras líbias, desde a queda do regime de Muammar Khadafi. “O nosso problema chama-se Líbia. Tudo mudou nos últimos dois anos”, afirmou. “A Itália não pode ser o primeiro país [de entrada de migrantes africanos] e assumir todo o peso nas suas costas.”

O governo italiano – uma grande coligação entre centro-esquerda e centro-direita – anunciou para esta semana uma reunião destinada a modificar a lei actual, que considera igualmente delinquentes os imigrantes e os “passadores” que os transportam.

Diferentes organizações não-governamentais calculam que entre 17 mil e 20 mil imigrantes tenham morrido nos últimos 20 anos, ao tentarem cruzar o Mediterrâneo.

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