2015 precisa dos jovens

Não sei onde estaremos em 2015. Talvez o Cristiano Ronaldo vá receber 50 euros por minuto, talvez um parquímetro na baixa de Lisboa vá receber ainda mais que isso

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ilustração/Ana Filipa Alves

Que calor. Queria dormir mas estou a ter uma insusana. Perdão, insónia. Sou mau com nomes. Nem aquela perna de fora do cobertor resolveu, ela que durante tantos anos foi a minha antena para apanhar rede da estação fria. "Vai ser o Verão mais frio dos últimos 200 anos", ainda diziam eles. Só podia ser tanga, o homem mais velho do mundo só tem 115.

Quatro horas de sono. Amanhã estou com um "jet lag" que parece que fiz Lisboa-Rio de jangada. Ou então que sou mãe. Sim, mãe. As pessoas dizem que para ter filhos é preciso ter maturidade, mas do que vejo acho que só é preciso ter olheiras.

Até soprar duas velas, a criança é um alarme que não dá para adiar, qual Nokia 3310 com um choro polifónico. No nirvana do seu leito, uma mãe é capaz de fazer dois quilómetros por noite só na transacção levantar-deitar para ir socorrer a criança em lágrimas. Se fosse eu dormia de fato de treino e cronómetro.

O sofrimento dura dois anos. Aos dois o bebé troca a fralda pelo penico e a maratona acaba. O penico é, no fundo, uma medalha de mérito para os papás. Um certificado de habilitações que os deixa dormir mais de seis horas por noite. Se os putos vêm mesmo de França no bico das cegonhas, quase que compensa encomendá-los já com dois ano feitos. Ou talvez não. Vindos de França são capazes de vir a gostar de Celine Dion.

Há por aí um bebé que tira hoje a fralda. Nasceu em 2011 e há dois anos que nos acorda a meio da noite com cultura. Já anda e corre. A primeira palavra não foi papá nem mamã, foi jovem. Trata todos por tu. Em 2015 vai fazer quatro. Vai correr e marcar golos. Isto se mantiver a forma. Se ficar gordo vai ter de ir à baliza.

Já vai comer sozinho, folgando os papás de lhe fazerem o “olha o avião”. Ironia ou não, será dos poucos a não precisar dele. Em 2015 o número de emigrantes qualificados a embarcar num airbus da Tap provavelmente duplicará. E eu estou na fila. Gosto de pensar que as hipóteses dos portugueses lá fora são boas. No fundo, emigrar é como causar um orgasmo: é mais difícil ter sucesso se não se domina a língua. E nós nisso somos bons.

Não sei onde estaremos em 2015. Talvez o Cristiano Ronaldo vá receber 50 euros por minuto, talvez um parquímetro na baixa de Lisboa vá receber ainda mais que isso. Talvez a economia engorde. Talvez a Fanny emagreça. Dava-lhe jeito passar a poder andar de elevador sozinha. Não sei. Mas sei onde gostaria que estivéssemos.

2015 precisa dos jovens. Portugal precisa dos jovens. Precisamos de mais candidatos ao Ensino Superior que à Casa dos Segredos. Precisamos de um Ronaldo na investigação, de um Mourinho nas renováveis e de deixar de só poder dar exemplos com pessoas do futebol. Precisamos de arriscar. O Governo precisa de arriscar. De querer crescer e parar de cortar. Cortem cabelos, unhas, frutas, fotografias, defeitos, mas não cortem oportunidades. Porque, se o rumo não for esse, qualquer dia até o P3 nos cortam. Para o P2.

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