Alemanha: vai começar a maratona para chegar a uma coligação

Merkel já fez primeiro contacto com SPD, que se reúne na sexta-feira para discutir o assunto.

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A vitória foi retumbante e a chanceler alemã, Angela Merkel, quase, quase chegou à maioria absoluta. Mas não a obteve, e vai acontecer o que tem sempre acontecido após as eleições na Alemanha: é preciso negociar uma coligação.

O problema para Merkel é que os seus parceiros de coligação do governo cessante, os liberais, não conseguiram sequer chegar ao Parlamento, ficando aquém dos 5% de votos que seriam necessários.

Assim, a hipótese mais provável, e que muitos alemães diziam desejar, é uma grande coligação entre os democratas cristãos (CDU-CSU) e os sociais-democratas (SPD).

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Não é uma combinação frequente – seria a terceira vez que acontece no país, sendo que a última foi justamente no primeiro mandato de Merkel. Mas aí a relação de forças era muito diferente: a CDU tinha obtido 35,2%, que era equivalente a 226 deputados, e o SPD 34,2%, correspondente a 222 deputados.

Hoje a proporção é outra: 311 para a CDU, 192 para o SPD, segundo os resultados finais preliminares 41,5% para a CDU/CSU, 25,7% para o SPD.

A chanceler, Angela Merkel, anunciou hoje: “Estamos abertos a conversações”. Disse que já falou com o líder do SPD, Sigmar Gabriel, que pediu para esperar até a uma convenção do partido na sexta-feira em que os sociais-democratas discutirão a opção de coligação. 

Repetiu que “a Alemanha precisa de um Governo estável” e adiantou ainda que “nada vai mudar em termos de orientação de política europeia”.

Merkel não espera que a conclusão das negociações seja rápida. “Leva o seu tempo”, disse a chanceler, que em 2005 precisou de dois meses e quatro dias para finalizar o acordo com o SPD.

A queda do SPD é tida por muitos responsáveis como tendo começado nos tempos da grande coligação. (Ontem, na ronda de entrevistas com os candidatos dos partidos, o jornalista da ZDF Peter Frey perguntou mesmo a Merkel qual seria o motivo pelo qual os sociais-democratas se afundam depois de uma coligação com ela, e os liberais têm também um desastre eleitoral depois de participar num Governo seu).

Após a divulgação dos primeiros resultados, vários responsáveis sociais-democratas evitaram a questão. Hannelore Kraft, governadora do estado-federado da Renânia do Norte Vestefália e estrela do partido (muitos esperam que seja um dia a “resposta” do SPD a Merkel), comentava que esta é uma questão “delicada”. A secretária-geral do partido Andrea Nahles tinha afirmado logo: “Não nos vamos comprometer com nenhuma coligação esta noite”.

As últimas conversações para coligação entre CDU e SPD demoraram dois meses. E o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, não excluiu que o partido entre também em conversações com os Verdes, que com 8% dariam também uma maioria estável ao Governo de Merkel.

O sucesso eleitoral enorme de Merkel dá-lhe força, mas por outro lado, terá de fazer cedências políticas para conseguir uma coligação quer com os sociais-democratas quer com os Verdes, ambos reticentes.

O SPD pediu durante a campanha um salário mínimo nacional (Merkel favorece o aprofundamento do sistema actual, em que as tabelas são definidas conforme profissões e locais, em acordos entre as associações patronais e sindicatos), e o aumento de impostos para os mais ricos (que Merkel contrariou alegando que poderia conduzir a desemprego).

Comentadores dizem que desta vez o SPD teria uma atitude diferente do que na última coligação, em que sentiram que a chanceler ficou com créditos de trabalho que foi seu (trabalho por exemplo do próprio ministro das Finanças, Peer Steinbrück). Assim, poderá mais ser uma oposição dentro da coligação.

Já os Verdes viram a sua política de marca, o fim da energia nuclear na Alemanha, roubada por Merkel na sequência do acidente nuclear de Fukushima, Japão, em 2011. Uma hipótese de coligação com a CDU provoca muitas dúvidas no partido e um dos líderes, Jürgen Trittin, tinha-a mesmo recusado durante a campanha. Nunca houve uma coligação CDU-Verdes a nível nacional, apenas no estado-federado de Hamburgo e no pequeno Sarre, e ambas acabaram em divergências e novas eleições. Assim, a hipótese, que tinha sido alvo de muita especulação, começou a parecer cada vez mais remota.

O potencial para instabilidade existe – há uma pequena maioria de deputados Vermelho-Vermelho-Verde, ou seja, SPD, Die Linke (extrema-esquerda) e Verdes. O SPD voltou ontem a dizer que não irá coligar-se com Die Linke a nível nacional, justificando-se com as diferenças em termos de política económica e estrangeira. Antes do resultado ser conhecido, o colunista Wolfgang Münchau dizia que caso houvesse uma grande coligação, o SPD poderia sempre ter a tentação de mudar de opinião a meio da legislatura. Ou mesmo de formar um governo minoritário com os Verdes com o apoio tácito do Die Linke. Mas dada a escala da vitória de Merkel, e a margem mínima de uma maioria destas, este será um cenário muito pouco provável.

Outro dado relevante das eleições de domingo foi a não entrada do partido antieuro AfD no Bundestag. O partido obteve 4,7%, perto do que seria necessário mas não suficiente para eleger deputados. No entanto, não é claro o que farão agora os seus líderes - os analistas dizem que poderão ainda ser uma voz no debate da crise do euro. Este tem estado em suspenso durante a campanha alemã, e deverá esperar ainda por um novo Governo no país, mas a probabilidade de um novo resgate à Grécia e discussões sobre a união bancária estão à porta.

Em termos europeus, espera-se que uma coligação com o SPD defenda condições melhores para os países em crise mas ninguém espera uma mudança racial de curso. Na Alemanha, o debate não é visto como “austeridade versus crescimento” e há um consenso generalizado no caminho que está a ser seguido e da necessidade de reformas nos países em crise – a maior diferença serão os eurobonds, ou mutualização da dívida, que o SPD defende e que Merkel repetiu, ainda este sábado, que não aceitará.

Notícia actualizada às 16h35 Acrescenta declarações de Angela Merkel.

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