O ano em que a Liga Espanhola foi da Galiza até Marrocos

A história do Clube Atlético de Tetouan, que, em 1951-52, jogou com os grandes de Espanha.

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O Atlético de Tetouan em 1951-52 DR

Acontece com alguma frequência uma equipa de futebol jogar no campeonato de um país que não é o seu. Circunstâncias políticas muitas vezes o ditaram. Mais raro é uma equipa jogar num campeonato de outro continente. Aconteceu com várias durante o tempo em que parte do território de Marrocos era um protectorado de Espanha (as cidades Ceuta e Melila ainda estão sob administração espanhola) e muitas equipas deste país de África integraram os campeonatos de futebol do seu vizinho ibérico do Norte. Mas apenas uma conseguiu chegar à primeira divisão, o Clube Atlético de Tetouan.

Situado numa cidade a 60 quilómetros de Tânger, o Atlético teve entre os seus fundadores, em 1933, Fernando Fuertes de Villavicencio, um militar que combatera na guerra em Marrocos e que jogara como extremo-esquerdo no Atlético de Madrid – Villavicencio seria o último chefe da Casa Civil de Franco. O Atlético marroquino adoptou as cores do Atlético Madrid e, três anos depois da sua fundação, em 1936, sagrava-se campeão de Marrocos, o que o habilitou a participar na Taça de Espanha – ainda eliminou o Tenerife na primeira eliminatória, mas foi depois afastado pelo Málaga.

Depois de ter rejeitado, numa primeira ocasião, a integração nos campeonatos de Espanha, o Atlético de Tetouan conseguiu ser campeão hispano-marroquino em 1942-43 e, na época seguinte, integrou a recém-criada terceira divisão espanhola. Foi quinto classificado na primeira época, foi despromovido na temporada seguinte aos Regionais, mas voltou a subir e chegou à segunda divisão em 1948-49. A temporada 1950-51 foi histórica para os “colchoneros” do Norte de África. O Atlético conseguiu ser o primeiro classificado, garantido um lugar entre os grandes de Espanha na época seguinte.

Mas, como se esperava, o ano seguinte foi difícil para o Atlético. Num campeonato com 30 jornadas, a equipa conseguiu apenas sete vitórias, cinco empates e 18 derrotas, algumas delas bastante pesadas, como um 8-0 diante do Atlético de Madrid ou um 7-0 em casa do Celta de Vigo – o Barcelona seria campeão em 1952, com 43 pontos, mais três que o Athletic Bilbau e cinco que o Real Madrid. Até teve um registo ofensivo bastante aceitável, com 51 golos marcados, acima de cinco equipas, mas terminou como a pior defesa, com 85 golos sofridos.

Ainda assim, viveu algumas alegrias durante a época. Como aquela que seria a sua única vitória fora (perderia todos os restantes encontros longe do seu estádio), na longínqua Galiza, por 3-2, frente ao Deportivo da Corunha, a goleada caseira frente à sua matriz madrilena, por 4-1, ou um empate com um Real Madrid que alinhou com nove internacionais espanhóis (3-3). Foram, porém, poucos sucessos para impedir o último lugar e a consequente despromoção à segunda divisão, de onde não voltou a sair até à sua mudança para Ceuta, em 1956.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

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