Residência

O “naufrágio colectivo” de Carmo Osul

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Carmo Osul fala de coisas sérias como quem está a brincar. Trabalha “recorrentemente” com limbos, realidades intermédias, “coisas que não são nem uma coisa nem outra”. O tudo e o nada, a vida e a morte. Em “Existências Extraviadas”, a série de trabalhos que desenvolveu durante a residência artística no 1.ª Avenida, provoca naufrágios — em Outubro, promete um colectivo em pleno lago da Avenida dos Aliados. Foi aliás esse o ponto de partida. Licenciada em Artes Plásticas pela FBAUP, ao candidatar-se só sabia que queria intervir na principal avenida da cidade. “Quis propor-me um desafio maior: trabalhar com o formato água, com as respectivas implicações, e num sítio que já toi tão criticado.” Atracou, então, na ideia de naufrágio, “aquela situação suspensa de uma morte que é quase esquecida mas que nunca desaparece”. “Há uma série de aspectos no comportamento do naufrágio que são bonitos de observar. O próprio momento, desde que o navio está à tona e vai ao fundo, em que parece que cai noutro tempo. E depois fica num limbo, num beco sem saída: não lhe é permitido desaparecer e também não lhe é permitido voltar.” Nesse sentido, a jovem de 24 anos, artista/programadora de dia, porteira num bar à noite (“um trabalho que não dá para pôr no CV, mas dá para pagar contas”), desenvolveu várias peças, recorrendo principalmente ao vidro e ao cimento, agora expostas no 2.º piso do AXA. Como “Da Definição do Naufrágio”, um aquário que se assemelha a uma página da enciclopédia, onde está um barco “feito para naufragar, nunca há-de boiar”; ou “Topografias Paralelas”, uma batalha naval de algum modo “cómica” que traça uma "distância entre o sinistro e a sua campa eterna”. No atelier, no 7.º piso, um aperitivo ao “naufrágio colectivo” que em Outubro vai ancorar nos Aliados. Uma premonição? “Quando eu desenho uma peça que tem mil barcos náufragos e a ponho num lago que está em frente à Câmara do Porto, independentemente do que diga ou não diga, vai fazer um depoimento. Não posso ignorar que tem alguma força crítica.”AR

 

O P3 acompanhou alguns dos jovens artistas que durante três meses estiveram em residência no projecto 1.ª Avenida, instalado no Edifício AXA, na Avenida dos Aliados, no Porto. Todos os trabalhos podem ser visitados até 29 de Setembro.