2015: vamos ter novas editoras para novos nichos de mercado

Os portugueses irão continuar a ler na língua de Camões mas, infelizmente, apenas graças ao trabalho da tradução

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O P3 faz dois anos. Como será a literatura ou o mercado livreiro quando este celebrar quatro? Pensar o mercado livreiro para daqui a dois anos foi o desafio que me colocaram. Dentro da complexidade inerente a qualquer exercício de previsão, parece-me fácil levantar algumas pistas para o futuro do livro em Portugal. 

O mercado livreiro português é anacrónico, está parado no tempo e a gritar por inovação/desenvolvimento, um qualquer investimento que o salve da asfixiante estagnação. Infelizmente, no horizonte temporal de dois anos, não se antevê nenhuma alteração radical o suficiente para quebrar com esta tendência que já se vai tornando tradição. Pode parecer coisa pouca falar de inovação, mas não o é. A falta desta leva a coisas como a fraca aposta nos novos formatos, a falta de aposta na descoberta e edição de autores portugueses, a fraca expansão para novos mercados e a fundição de casas editoriais em "holdings".

São tudo problemas resultantes da falta de inovação do mercado, ou melhor, são tudo estratégias empresariais com o objetivo de minorar os efeitos da falta de inovação.

Jogadas tradicionais

O mercado é asfixiante. Seja devido ao leitor, às margens das livrarias ou ao preço astronómico das distribuidoras, a verdade é que é cada vez mais difícil vender livros e as editoras não estão a lidar com esta questão da melhor maneira. Não se tem tentado abordar o cliente de novas maneiras, com novos canais, com novos produtos e soluções. Ao invés disso, tem-se apostado em jogadas empresariais que mascarem o problema. Formam-se "holdings" para que se tenha mais músculo financeiro, adia-se a investigação em novos suportes para reduzir custos e compram-se os direitos de autor de escritores estrangeiros que já provaram ser "best-sellers". Enfim, jogadas tradicionais que já não vão tendo lugar no mundo digital.

Estas estratégias tendem a continuar e irão gerar consequências diretas. Cada vez mais serão criadas novas editoras, de pequena dimensão, que encontrarão espaço entre os catálogos generalistas das grandes editoras e irão ao encontro da procura dos vários nichos de mercado que não estão a ser explorados. Acredito que a inovação gerada no mercado até 2015 será por intermédio destas novas entradas que, para sobreviver, terão de fazer diferente.

Será também inevitável que se comece a apostar mais seriamente no comércio online de livros, sendo de prever que todas as editoras e livreiros tentem a conversão para a "web". A diferença estará nos que conseguirem introduzir com sucesso as ferramentas de social media e dos novos formatos de edição ("ebooks" e "audiobooks").

Os portugueses irão continuar a ler na língua de Camões mas, infelizmente, apenas graças ao trabalho da tradução, visto que se prevê que as editoras mantenham a importação de direitos de autor como estratégia principal.

Por último, iremos assistir a uma entrada progressiva em novos mercados, sendo o movimento feito primeiro para os países com afinidade linguística (CPLP) e só depois para a Europa.

Apenas posso indicar linhas orientadoras e apontar tendências pois o rumo a seguir, esse, depende somente das estratégias das casas editoriais e das vontades demonstradas pelos leitores. Parabéns P3.

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