2015: a utopia do Ministério do cinema português

Uma utopia: seria indecoroso não agradecer ao principal obreiro da revolução cinematográfica portuguesa, o Ministério do Cinema

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31 de dezembro de 2015. Altura ideal para um balanço do ano que passou. E que ano para o cinema português! Pela primeira vez, oito filmes portugueses alcançaram a marca dos 5 milhões de espetadores em Portugal. Cineastas portugueses adicionam Palmas, Ursos e Leões aos seus currículos. Em Berlim e Veneza, por exemplo, mais de metade dos filmes selecionados foram produções portuguesas. E refiro-me apenas a longas-metragens. O número de curtas portuguesas selecionadas e vencedoras de certames internacionais é já considerado banal, depois do "boom" em 2014. Como foi possível um avanço tão grande num intervalo de tempo tão curto?

Antes de responder à questão, seria indecoroso não agradecer ao principal obreiro da revolução cinematográfica portuguesa, o Ministério do Cinema. Criado em 2013 pelo Governo após pressão da população (quem não se lembra da manifestação em outubro de 2013, com 500 mil pessoas envergando câmaras de filmar defronte da Assembleia da República), o ministério alcançou rapidamente o cumprimento cego da Lei do Cinema e redirecionou fundos europeus inicialmente reservados ao resgate dos bancos para as produtoras de cinema português. A insatisfação dos operadores de televisão e a pressão dos lóbis económicos foi enérgica e veemente. Mas o Ministério do Cinema manteve-se irredutível.

Qualidade planetária

Agora sim, a resposta à questão apresentada acima. Com os novos fundos, foi possível aumentar exponencialmente a produção cinematográfica. E com a produção liberta dos problemas financeiros, a qualidade do cinema português espalhou-se pelo planeta. Era possível filmar sem recear perder dinheiro para conseguir apresentar a obra final; era possível apoiar novos realizadores e novas produtoras (claro que os Velhos do Restelo vociferaram, mas apenas as pedras da calçada os ouviram); o desaparecimento dos recibos verdes nas colaborações artísticas; as produtoras puderam, finalmente, pagar formações aos funcionários, tornando-os melhores nas suas respetivas áreas. Até os críticos se resignaram, “vós que amais o fácil”. O cobiçado prémio, “o Longe e a Miragem”, após anos e anos de indigência.

Portugal evoluiu e olha para 2016 do topo da lista da produção cinematográfica europeia. Os prémios que têm inundado os noticiários, assim como as estantes das produtoras e realizadores, são o reflexo do que já foi apelidado como “os Descobrimentos do século XXI”. Seiscentos anos depois, voltamos a entrar na senda da conquista. Desta vez, não “por mares nunca dantes navegados”, mas por terra, invadindo aqueles que, no passado, dividiam a glória connosco.

Resta olhar para o ano vindouro com o orgulho do alcançado e de olhos postos no novo desafio. Voltar a dominar metade do mundo.

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