Os escritores de todo o mundo agora podem concorrer ao prémio Man Booker

"Autores que escrevam em inglês, sejam de Chicago, Sheffield ou Xangai” vão poder concorrer a um dos mais importantes prémios literários do mundo. O novo prémio Folio, que tem os mesmos parâmetros, está "surpreendido".

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JOHANNES EISELE/AFP

Os rumores começaram há semanas e no domingo o britânico Sunday Times garantia que um dos mais conceituados prémios literários do mundo ia abrir-se aos romancistas americanos mas só esta quarta-feira a organização esclareceu: já a partir de 2014, o prémio Man Booker vai passar a abranger escritores de todas as nacionalidades, desde que tenham publicado originalmente a sua obra em inglês e que tenham edição no Reino Unido.

Atribuído anualmente desde 1969, o prémio é o mais importante galardão literário da língua inglesa – mas até 2013 só premiou escritores do Reino Unido, irlandeses ou de países da Commonwealth. “Paradoxalmente”, lê-se no comunicado dos membros da Fundação Booker Prize, o prémio “não tem permitido a participação total de todos os que escrevem ficção literária em inglês”.

A decisão surge depois do que é descrito como um profundo processo de investigação e avaliação que dura desde 2011 e que auscultou não só peritos no mercado literário, mas também escritores e leitores de todo o mundo. A mesma nota clarifica a notícia do Sunday Times, que se focava nos escritores norte-americanos, dizendo que, “inicialmente, a ideia era de que a Fundação Booker Prize poderia criar um novo prémio especificamente para escritores norte-americanos”.

A notícia gerou várias críticas, com a escritora Linda Grant, autora de The Clothes on Their Backs – que fez parte da shortlist (lista final de candidatos) de 2008 –, a lamentar a potencial novidade: "Há dois prémios que mudam uma carreira – o Booker e o Pulitzer. O Pulitzer tem um grande mercado nos EUA e os autores britânicos estão fora disso. Se o Booker se abrir a autores americanos, vai criar um enorme desequilíbrio", defendeu. "Se se publicar Richard Ford e Jonathan Franzen, quais são as hipóteses de eles não serem candidatos?"

Mas, no fim de contas, a Fundação Booker Prize concluiu que alargar o universo de candidatos do Man Booker iria aumentar “o prestígio e a reputação” do prémio, indo ao encontro “da natureza cada vez mais internacional da edição e da leitura”. “O prémio expandido vai reconhecer, celebrar e abraçar autores que escrevam em inglês, sejam de Chicago, Sheffield ou Xangai”, diz Jonathan Taylor, que preside ao conselho de gestores da fundação, acreditando que a longlist deste ano – o vencedor é anunciado a 15 de Outubro – mostra que este processo já está em curso: "Estamos a acolher a liberdade do inglês em todo o seu vigor, vitalidade, versatilidade e glória, esteja ela onde estiver. Abandonamos os constrangimentos da geografia e das fronteiras nacionais.”

Contudo, há quem veja este fim das fronteiras no Man Booker como uma resposta preparatória ao Folio, até aqui apresentado como o maior prémio literário britânico aberto a escritores de todo o mundo e que só começará a consagrar romancistas em 2014. A organização do Folio reagiu mesmo esta quarta-feira ao anúncio da Fundação Booker Prize, com o seu fundador, Andrew Kidd, a argumentar que o Folio foi criado "para complementar prémios existentes, baseando-se no princípio de que cada um tem o seu próprio e único tópico". Kidd garantiu, por isso, que os membros da Academia Folio Prize ficaram "algo surpreendidos com esta decisão" do Booker.

"Ainda assim, é importante estar aberto à mudança e saudamos o facto de o Man Booker se ter juntado ao Prémio Folio no não olhar a fronteiras", diz, sem deixar de fazer notar que a Fundação Booker Prize "criou um conselho electrónico de antigos vencedores do Booker que é similar à Folio Prize Academy". "Estou certo de que, a par de muitos outros extraordinários prémios literários, podemos todos trabalhar juntos e eficazmente pelo o nosso objectivo comum de enriquecer as vidas de milhões de leitores", remata Andrew Kidd. 

Recorde-se que o Man Booker tem também uma versão internacional do seu prémio, atribuído de dois em dois anos, no valor de 60 mil libras, e que depende apenas de uma escolha pelo júri e não de candidaturas. Este ano a vencedora foi Lydia Davies.

De acordo com o comunicado da Fundação Booker, os procedimentos basilares do prémio, como o número de jurados ou o facto de só editores britânicos poderem candidatar-se, mantêm-se. Alteram-se sim alguns parâmetros quanto ao número de candidaturas possível por editor.

A edição deste ano do Man Booker tem como finalistas a neozelandesa Eleanor Catton, a canadiana Ruth Ozeki, a primeira autora do Zimbabué finalista, NoViolet Bulawayo, o irlandês Colm Tóibín e os britânicos Jim Crace e Jhumpa Lahiri. Esta shortlist é descrita como uma das melhores de sempre. 
 
 
 

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