Director artístico do Bolshoi regressa ao teatro após ataque com ácido

Serguei Filin, de 42 anos, volta a Moscovo oito meses depois do incidente que o deixou parcialmente cego para apresentar nova temporada.

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Serguei Filin voltou terça-feira ao Bolshoi Maxim Shemetov/REUTERS

Oito meses depois do ataque com ácido que o deixou com lesões na vista e com o rosto parcialmente queimado, desencadeando uma série de escândalos no Ballet Bolshoi, Serguei Filin voltou terça-feira à casa de uma das mais antigas e importantes companhias de reportório do mundo para marcar o início da temporada. O director artístico foi a figura central da apresentação da nova programação, que conta com Wagner, Tchaikovsky e Pierra Lacotte.

Esta é a 238.ª temporada do Bolshoi, mítico teatro de Moscovo, e foi apresentada pelo seu novo director-geral, Vladimir Urin, que substituiu este ano Anatoly Iksanov, demitido em Julho pelo Governo russo na sequência das polémicas em torno do ataque a Filin e de anos de controvérsias sobre corrupção e lutas internas, nomeadamente quanto a desvio de fundos durante as obras de renovação desta sala histórica, entre 2005 e 2011.

Urin, que dirigia o teatro Stanislavsky e Nemirovich-Danchenko, apresentou a programação, em cuja concepção Filin também esteve envolvido na área do bailado, mas, como assinala o diário britânico The Guardian, toda a imprensa presente dava atenção sobretudo ao homem de óculos escuros que foi recebido por uma multidão de jornalistas e colegas logo no aeroporto, como descreve o norte-americano The New York Times

Serguei Filin foi atacado com ácido sulfúrico, lançado ao seu rosto no final do dia 17 de Setembro à porta da sua casa em Moscovo. Desde então, esteve sobretudo numa clínica na Alemanha, onde terá sido submetido a mais de 20 cirurgias para recuperar parte da visão e a pele do rosto. O jornal britânico cita os médicos do director artístico e ex-bailarino, que dizem que Filin tem 80% da visão num olho e que está quase cego do outro. Serguei Filin, que durante a sua ausência foi substituído interinamente por Galina Stepanenko, voltará a morar em Moscovo, visitando a clínica alemã periodicamente. Não é ainda claro quão presente estará no teatro.

Profusamente aplaudido quando tomou a palavra na sessão oficial de reabertura do teatro, onde estava também o ministro da Cultura, Vladimir Medinsky, Filin falou das estreias de novos bailados para o Bolshoi e tentou não mencionar o ataque. Mas saudou a audiência com uma frase irónica: “Estou muito contente por vos ver.” À chegada ao aeroporto, no sábado, vindo da Alemanha, dissera: “A única coisa que resta é dançar.” À saída do Teatro Bolshoi, na terça-feira, o director do ballet acrescentou que se sente bem, física e psicologicamente, e tentou desviar as atenções do ataque, focando-se “no lado artístico das coisas”.

O suspeito principal do crime perpetrado a 17 de Janeiro é o bailarino Pavel Dmitrichenko, de 29 anos, que se encontra detido com dois cúmplices desde o início de Março, após ter sido considerado o mandante do ataque. Dmitrichenko negou ter ordenado um ataque com ácido, admitindo apenas que teria orquestrado um espancamento, pelo que se declarou inocente das acusações que podem resultar numa pena de prisão até 12 anos. O julgamento dos três suspeitos deverá começar em Outubro, escreve o New York Times.

Além de Anatoly Iksanov, o caso fez outra baixa nos quadros do Bolshoi: Nikolai Tsiskaridze, bailarino principal da companhia, tinha um conflito aberto com Filin e com a direcção e desde o ataque pronunciou-se várias vezes sobre o caso, chegando a negar a extensão dos danos à saúde da vítima ou a questionar a veracidade do ataque. Nikolai Tsiskaridze viu o seu contrato terminado no Verão e não volta ao Bolshoi para a temporada que agora começou com uma apresentação da ópera A Dama de Espadas, de Tchaikovsky, e que terá como companhia uma interpretação de O Navio-Fantasma, de Wagner. No bailado, a temporada começa oficialmente a 9 de Novembro com Marco Spada, pelo coreógrafo Pierra Lacotte, e incluirá também a nova versão de A Dama das Camélias. O bailarino David Hallberg regressa esta temporada como o primeiro norte-americano a dançar regularmente no Bolshoi depois de uma lesão.
 
 
 
 

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