Soares dos Santos contra a “destruição” da administração pública pelos “aparelhos partidários”

Chairman do grupo Jerónimo Martins defende a revisão constitucional.

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Soares dos Santos: é preciso “adaptar a nossa Constituição aos tempos de hoje, que são completamente diferentes dos tempos de 1976 ou lá quando é que isso foi feito” Miguel Manso

O presidente não executivo do grupo Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos, defendeu neste sábado a qualificação dos “representantes” de Portugal, sejam governantes ou funcionários públicos, apelando ao fim da “destruição” da administração pública pelos “aparelhos partidários”.

Alexandre Soares dos Santos defendeu também uma revisão da Constituição, que a actualize, mas não disse concretamente que aspectos da Lei Fundamental considera necessário alterar.

O também presidente do conselho de fundadores da Fundação Francisco Manuel dos Santos falava no encerramento do segundo encontro Presente no futuro, dedicado ao tema Portugal europeu, e agora?, no liceu Pedro Nunes, em Lisboa.

“Se o destino de Portugal passa inevitavelmente pela afirmação no espaço europeu, tem de saber fazer representar os seus interesses ao mais alto nível nos vários fóruns da Europa”, afirmou. Nesse sentido, argumentou, “Portugal tem que investir na formação e preparação dos seus representantes, sejam eles governantes, militares, técnicos ou embaixadores”.

Para Soares dos Santos, isso passa por perceber o que é a globalização, e esses representantes “têm que perceber o que é a Europa, têm que perceber que o mundo de hoje não é, de maneira nenhuma, o Terreiro do Paço”. “Têm de perceber de uma vez por todas que os aparelhos partidários devem acabar imediatamente com a destruição contínua e sistemática da nossa administração pública, operada com nomeações políticas e amiguismos”, defendeu, sendo interrompido por aplausos.

Segundo Alexandre Soares dos Santos, “Portugal sempre teve bons funcionários públicos, que a política baixa e os interesses políticos rasteiros se foram encarregando de eliminar ou mesmo de destruir”.

Na intervenção de encerramento da conferência promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, Alexandre Soares dos Santos considerou ainda “fundamental” rever a Constituição. “Não temos tempo a perder, é fundamental revermos a nossa Lei Fundamental, a Constituição e reflectirmos todos, mas todos, com profundidade e seriedade, se a ideia de sociedade que nela se encerra é a que mais nos capacita para assumirmos o nosso lugar no espaço europeu”, afirmou.

Questionado pela Lusa sobre os aspectos que considera devem ser alterados, respondeu: “Adaptar a nossa Constituição aos tempos de hoje, que são completamente diferentes dos tempos de 1976 ou lá quando é que isso foi feito. Nós temos que ter uma actualização permanente”.

“Não me estou a referi aos chumbos [do Tribunal Constitucional]”, disse, acrescentando estar a falar em geral e não querendo especificar as alterações que defende ao texto constitucional. “Eu não tenho nada a ver com política, o meu discurso foi virado para Portugal, temos que adaptar tudo, como eu disse, reciclar a administração pública – os generais, os embaixadores – e apercebermo-nos que somos cidadãos do mundo”, declarou ainda à Lusa.

Na sua intervenção, Alexandre Soares dos Santos defendeu que é preciso “mais democracia” na Europa, considerando que as instituições europeias são pouco transparentes e que “o Parlamento Europeu não pode continuar a ser uma instituição remota e desconhecida de quase todos”. “Portugal é viável dentro de um projecto europeu forte”, considerou.
 
 

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