Cervejeira Damm consegue controlo da administração da Pescanova

Empresa será liderada por Juan Manuel Urgoiti, ex-presidente do Banco Galego e conselheiro da Inditex.

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A cervejeira Damm, apoiada pelas empresas Luxempart e Iberfomento, conseguiram nesta quinta-feira o apoio maioritário dos accionistas da Pescanova para a sua candidatura à formação de um novo conselho de administração da empresa galega.

Esse conselho, eleito depois da demissão em bloco do anterior – no arranque da assembleia extraordinária de accionistas – será liderado por Juan Manuel Urgoiti, ex-presidente do Banco Galego e conselheiro da Inditex. Sucede, assim, a Manuel Fernández de Sousa – a quem os tribunais impuseram recentemente uma fiança civil de 179 milhões de euros, actualmente alvo de recurso – que na sua intervenção, esta quinta-feira, afirmou que o futuro da Pescanova passa por “novas pessoas, novas caras”.

Juan Manuel Urgoiti foi designado por unanimidade, informou a empresa à Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV).

Além de Urgoiti, do novo conselho de administração fazem parte os representantes dos accionistas Luxempart (Françoise Tesch), Iberfomento (Fernando Harce Meléndez) e da Damm (José Carceller). Integram ainda a administração o independente Yago Méndez, o conselheiro da SAREB (o "banco mau" espanhol), Luis Ángel Sánchez-Merlo e o director-geral da CAF, Ángel Legarda.

A proposta da Damm (presidida por Demetrio Carceller e que controla 6,183% do capital da Pescanova) venceu com o apoio de 70,82% dos votos, incluindo os apoios da Luxempart, com 5,83%, e da Iberfomento, com 3,39%. A Damm, cujo presidente foi acusado na quarta-feira, por um juiz espanhol, de alegada fraude fiscal, e a Luxempart lideram o bloco dos accionistas mais contestatários da anterior gestão de Sousa, que deixou um "buraco" patrimonial de 1667 milhões de euros e uma dívida de 3674 milhões de euros.

A Deloitte, administradora do concurso de credores da Pescanova, revelou que a empresa esteve a operar através de diversas sociedades, registando receitas e despesas que não correspondem a operações comerciais reais e realizadas com o objectivo de obter financiamento através do desconto comercial de facturas. Especificamente, o relatório diz que a empresa galega declarou em 2011 e 2012 vendas de 625,84 e 703,34 milhões de euros, das quais, respectivamente, 77% e 80% eram fictícias, ou seja, feitas através dessas sociedades "instrumentais".

Cabe agora ao conselho de administração “transitório” – enquanto a empresa estiver em concurso de credores – eleger o presidente, previsivelmente Urgoiti.

A decisão desta quinta-feira foi tomada numa assembleia extraordinária em que participam 613 accionistas representando 54,8% do capital social da Pescanova e que marca o arranque da refundação da empresa. Antes da eleição e como estava previsto, foi destituído, por unanimidade, o actual conselho de administração, assinalando o fim do controlo de Sousa, que detém 7,5% do capital da Pescanova, mas que não se apresentou como candidato à administração.

Na mesa do novo conselho de administração estará um plano de viabilidade que a PricewaterhouseCoopers (PwC) apresentará em Outubro e que passa, antevêem certos analistas, pela venda de activos ou recapitalização da dívida depois de um haircut da banca que pode chegar aos 75%.

A Deloitte considera que o futuro da empresa depende de um novo convénio de credores e uma reestruturação da empresa que passe tanto por vendas de activos como pela reorganização do negócio.
Conseguir resolver os problemas da empresa requer, segundo o relatório, redimensionar os créditos e a "venda ou reorganização de certas unidades produtivas que não sejam essenciais".

No estudo, a Deloitte refere não ter recebido ainda "qualquer tipo de proposta que considere a viabilidade patrimonial da sociedade ou do grupo", mas regista o interesse de vários grupos com potenciais soluções para a empresa.
 

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