Banco de Espanha enfrenta acusações de falta de supervisão sobre o Bankia

Para a Inspecção-Geral da Administração do Estado espanhol, o banco central não soube actuar em conformidade em relação à gestão do banco desde 2006.

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O BFA resultou da fusão de sete caixas de aforro PEDRO ARMESTRE/AFP

À indignação social que se fez ouvir por causa da nacionalização do grupo Bankia, em Espanha, veio juntar-se, primeiro, a Associação de Inspectores do Banco de Espanha (AIBE), com o dedo apontado à falta de mão do supervisor bancário na gestão do banco. Agora, o tom das críticas ganhou mais dimensão, com a Inspecção-Geral da Administração do Estado espanhol a acusar o banco central de ter sido demasiado brando na supervisão do grupo financeiro, intervencionado no ano passado para evitar a falência.

A instituição resultou da incorporação de sete caixas de aforro espanholas no grupo BFA (Banco Financeiro e de Aforros) em Dezembro de 2010, mas as falhas de supervisão de que o Banco de Espanha é acusado pelo AIBE são anteriores à fusão.

Demasiado exposto à crise no sector imobiliário, como outras caixas de aforro regionais, o Bankia recebeu do Estado espanhol uma injecção maciça de dinheiro estatal ( 22 mil milhões de euros) no quadro da recapitalização bancária negociada com o Governo de Mariano Rajoy, e acompanhada pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Nas conclusões do relatório citadas pelo diário El País, aquele organismo considera que o Banco de Espanha não teve um controlo devido sobre a instituição desde 2006, nem no pico da crise imobiliária, “à luz dos primeiros relatórios” alertando para “problemas significativos” e riscos acumulados. “As recomendações, por escrito, de Dezembro de 2006” só foram implementadas em finais de 2008, insiste.

Já em Janeiro, a Associação de Inspectores do Banco de Espanha considerou que “a forma habitual de reacção perante os indícios de delito [foi] virar a cara para o outro lado”.

A inspecção-geral, na alçada do Ministério das Finanças e Administrações Públicas, tece também críticas às entidades que estão na origem ao novo grupo, entre as quais está a Caja Madrid. Quanto à própria gestão do Bankia, o organismo diz que “as políticas seguidas a partir de 2004 levaram a que a situação desta entidade seja muito pior do que as outras entidades financeiras similares [caixas de aforro afectadas pela crise imobiliária]”.

“O trabalho do supervisor poderia ter sido mais severo no passado, não permitindo o crescimento descontrolado, que dificultou e tornou ineficazes as medidas de recondução do problema, e levou à situação conhecida”, lê-se nos excertos publicados pelo El País.

Para o organismo, as conclusões iniciais resultaram em “recomendações que, por vezes, não parecem reflectir com toda a crueza os problemas que a entidade devia solucionar”. E refere “debilidades, incumprimentos e actuações incorrectas” das equipas de gestão, sem que os responsáveis do Banco de Espanha tenham, nessa altura, imposto sanções “ou outro tipo de actuação” que reforçasse o papel do próprio Banco de Espanha.
 
 
 
 

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