George Enescu: o festival que põe a Roménia no mundo

O festival mais importante da Roménia arrancou este domingo com dois dos maiores nomes da música clássica: Daniel Barenboim e Radu Lupu. Até ao final do mês são esperados em Bucareste mais de quatro mil artistas e 120 mil pessoas.

Algumas das orquestras mais influentes vão passar por Bucareste até 28 de Setembro
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Algumas das orquestras mais influentes vão passar por Bucareste até 28 de Setembro KARINA KNAPEK/AFP
Daniel Barenboim conduziu a orquestra num concerto esgotado há semanas
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Daniel Barenboim conduziu a orquestra num concerto esgotado há semanas KARINA KNAPEK/AFP

A 21ª edição do Festival Internacional George Enescu, em Bucareste, arrancou este domingo com um concerto inédito: Daniel Barenboim, um dos maestros mais aplaudidos da actualidade, apresentou-se com a orquestra Staatskapelle Berlin, da qual é director, e convidou o romeno Radu Lupu, um dos maiores pianistas do mundo, para partilhar o palco. O festival, um dos mais importantes da Europa, estende-se até ao dia 28 de Setembro, e tem já 90% dos bilhetes vendidos.

Se há momento em que a Roménia aparece no mapa cultural mundial é quando acontece este festival, que pretende celebrar o violinista e compositor romeno George Enesco (1881-1955). É o evento cultural mais importante do país e não é por isso de estranhar que nestes dias Bucareste ganhe uma nova vida e uma nova cor. Por todo o lado as referências ao festival, que acontece de dois em dois anos, estão presentes e a partir desta semana vão mesmo começar a acontecer concertos em algumas das praças principais da capital.

Até ao final do mês é para aqui que a elite mundial da música está virada. Algumas das orquestras mais influentes como a Philharmonia Orchestra (Londres) ou a Concertgebouw de Amesterdão vão passar por aqui, assim como alguns dos mais prestigiados maestros (além de Barenboim, Antonio Pappano e Mariss Jansons) e músicos (os pianistas russos Evgueni Kissin e Boris Berezovski, as francesas Marielle e Katia Labèque e a chinesa Yuja Wang). O concerto que este domingo abriu o festival, esgotado há muitas semanas, é disso exemplo.

“Este festival já se tornou numa marca para a Roménia”, diz ao PÚBLICO Oana Marinescu, directora de comunicação do festival, explicando que “esta é a forma de mostrarmos ao mundo que também nós romenos temos coisas boas, também nós temos uma cultura de qualidade e, acima de tudo, também nós somos criativos”. E continua: “Muitas vezes somos falados pelos motivos errados, percebemos isso na imprensa internacional em que quase sempre somos notícia por motivos negativos, ora é por causa da criminalidade ora é por corrupção. Com o festival pelo menos conseguimos que o mundo olhe para nós com outros olhos”.

Este ano, por exemplo, a procura de bilhetes no estrangeiro aumentou 20%, adianta ao PÚBLICO Oana, explicando que até à semana passada já 20 mil entradas tinham sido compradas fora da Roménia. “E no total já foram vendidos 125 mil bilhetes, restando apenas sete mil para todo o evento”, acrescenta. Estes números dizem respeito aos 78 concertos que ao longo das próximas semanas vão acontecer na capital romena.

“É preciso ver que isto tem um grande impacto na nossa economia. Não é apenas uma questão cultural como também económica. Vamos ter mais de quatro mil artistas, dos quais 3500 são estrangeiros. Sabe quantas noites reservadas isto significa nos hotéis? Sete mil”, afirma a responsável de comunicação, destacando ainda a presença de imprensa nacional e estrangeira no festival. “O turismo dispara quando há George Enescu, é uma óptima forma de nos promovermos.”

Essa mesma foi a ideia que o ministro da Cultura romeno, Daniel Barbu, reforçou na conferência de imprensa de apresentação do festival que aconteceu este domingo. Barbu destacou que apesar de todos os sacrifícios que o Governo tem vindo a fazer por causa da crise económica, o primeiro-ministro Victor Ponta vê este festival como essencial para o país. “Se esta edição é a mais importante e espectacular de sempre é porque ele trabalhou nesse sentido”, disse o ministro da Cultura na conferência de imprensa.

O Estado é aliás o principal “patrocinador” do evento, como explicou ao PÚBLICO Oana Marinescu, uma vez que o orçamento do festival é de nove milhões de euros, dos quais apenas um milhão é proveniente de contribuições privadas e da venda dos bilhetes. Tudo o resto é dinheiro do Estado.

“E já que os romenos contribuem para isto com as suas taxas, ao menos que recebam alguma coisa de qualidade de volta”, reforçou na conferência de imprensa Ioan Holender, antigo director da Ópera de Viena e agora responsável artístico do festival. “Este é um evento que torna a sociedade melhor, um dos poucos que acontecem na Roménia e que é bem falado no mundo”, continuou Holender, destacando ainda a oportunidade que o festival representa para as novas gerações de músicos no país. “Têm aqui a oportunidade de partilhar o palco com algum dos nomes mais importantes do mundo”, afirmou, exemplificando depois com Radu Lupu.

Lupu, que vive na Suíça, não actuava na Roménia há já vários anos e por isso o concerto desta noite foi recebido com especial emoção. A Sala mare a Palatului (a sala de concertos do Palácio Real) começou por aplaudir Barenboim e a sua orquestra mas foi quando Radu Lupu, que não dá entrevistas, surgiu em palco que se ouviu e sentiu o maior aplauso.

Apelidado por muitos como o “mágico do piano”, Radu ainda tentou por várias vezes chamar Barenboim para seu lado para juntos receberem os aplausos mas o maestro fez questão de se deixar para segundo plano, deixando que o pianista se sentisse novamente em casa.

Na conferência de imprensa, pouco antes do concerto, Ioan Holender revelou que a presença de Radu na programação foi um desafio de Barenboim. “Ele disse que vinha se actuasse com o Radu Lupu, foi ele que o convenceu a vir cá. Devemos isso ao Barenboim”, contou em tom de brincadeira Holender.

“A fasquia está muito alta este ano. A partir daqui só pode melhorar”, concluiu ao PÚBLICO o ministro da Cultura.

A programação completa do festival pode ser consultada aqui, onde podem ainda ser acompanhados alguns concertos que terão transmissão online.

O PÚBLICO viajou a convite do Instituto Cultural Romeno

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