Não aos telemóveis: músicos queixam-se da desatenção do público

Um festival na Polónia quer transformar-se numa experiência sem fotos.

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PAULO PIMENTA

Há cada vez mais músicos a queixar-se do comportamento do público nos concertos, pelo facto das assistências passarem o tempo a tirar fotografias com telemóveis, para serem partilhadas nas redes sociais, ou de provocar ruído através das conversas com os parceiros do lado. “Está toda a gente cada vez mais interessada em exteriorizar a experiência e não de a interiorizar”, resume o comunicado do importante festival polaco Unsound, que se realiza em Cracóvia, de 13 a 20 de Outubro, e que optou por uma medida radical: proibir espectadores e imprensa de tirar fotos.

Quinta-feira, foi a cantora americana Fiona Apple que não resistiu a mandar calar o público quando actuava, em Tóquio, no Japão, perante uma assistência internacional presente num evento da Louis Vuitton. Ao que parece a solicitação não terá surtido grande efeito, com o público a continuar a falar, acabando a cantora por dizer que não passavam de uns “mal-educados”. Também a cantora Karen O, dos Yeah Yeah Yeahs,  já pediu ao público em pleno concerto em Nova Iorque para guardar “a merda dos telemóveis” - o grupo costuma ter à entrada dos seus concertos um cartaz a solicitar que "o público não veja o concerto através da câmara do seu telemóvel". Também na sua actuação no festival Primavera Sound do Porto, as inglesas Savages fizeram referência ao assunto, de forma polida, pedindo ao público para deixar os telemóveis de lado.

E muitos outros exemplos poderiam ser mencionados. Até porque o assunto não é novo, embora pareça agudizar-se, de tal forma que entre os membros do público já é recorrente perceber momentos de hostilidade, principalmente quando toda a gente levanta os braços no ar com o intuito de obter o melhor ângulo para tirar uma fotografia. “Já não escutamos, nem cantamos, optamos antes por comentar no Twitter os acontecimentos a que estamos a assistir” dizia numa entrevista recente o cantor francês Etienne Daho. Na teoria, os enfoques da experiência parecem multiplicar-se. Na prática, podemos passar ao lado da experiência.

A proibição do festival polaco Unsound inclui fotos e vídeos e a medida é apresentada pela organização como uma experiência de “resistência ao hábito contemporâneo de documentar cada instante em directo”. Não haverá, no entanto, seguranças a impedir o gesto. A ideia é que seja o público a (auto)vigiar-se, censurando os que estiverem a apontar o telemóvel para o palco. A organização garante também que alguns concertos serão registados discretamente por um fotógrafo do próprio festival.

O que o festival polaco deseja é “encorajar o público a concentrar-se no momento, sem distrair os outros desse mesmo momento”, embora esteja consciente de que a discussão encerra muitos paradoxos, porque ao mesmo tempo as imagens de concertos e festivais constituem hoje uma das principais fontes de comunicação dos mesmos. No festival irão actuar dois nomes portugueses – DJ Marfox e Nigga Fox, pertencentes aos quadros da editora Lisboeta Príncipe.

Forest Swords, Andy Stott, Rhys Chatman, Julianna Barwick ou Underground Resistance são alguns dos muitos nomes que actuarão no festival, sem telemóveis apontados na sua direcção.
 
 
 

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