EUA dizem que morreram 1429 no ataque químico na Síria

Estados Unidos divulgam dados sobre ataque com armas químicas pelo regime de Assad para fundamentar motivos para ataque punitivo.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, está a fazer um discurso para fundamentar um ataque punitivo contra o regime de Bashar al-Assad, ao mesmo tempo que estão a ser divulgadas informações recolhidas pelos Estados Unidos sobre o ataque de quarta-feira passada nos arredores de Damasco com armas químicas. Terão morrido 1429 pessoas, e o ataque esteve a ser preparado durante três dias, diz Washington.

Os EUA dão o passo de tornar pública a informação de que dispõem no dia seguinte aos deputados britânicos terem votado contra a ideia de castigar militarmente o regime sírio. François Hollande garantiu, no entanto, que a França não desiste de castigar Bashar al-Assad, mesmo sem a participação de Londres. Barack Obama pode avançar com uma iniciativa mesmo sem o Reino Unido como aliado.

"O massacre químico não pode ficar impune", afirmou François Hollande ao Le Monde, numa entrevista publicada nesta sexta-feira, em que reafirma o empenho francês em participar num ataque punitivo contra o regime sírio, mesmo sem a participação britânica.

A Casa Branca disse na última noite que os EUA vão "continuar a consultar o Governo do Reino Unido – um dos [seus] amigos e aliados mais próximos" e a decisão de avançar ou não "será norteada pelos interesses americanos".

Horas depois de Londres ter rejeitado uma proposta de intervenção militar externa na Síria, Washington reafirmou: "[O Presidente Obama] acredita que estão em jogo valores centrais para os EUA e os países que violarem normas internacionais relativas a armas químicas têm de ser responsabilizados."

Estas declarações, citadas por toda a imprensa norte-americana, sugerem que a ideia de responder ao alegado ataque químico da semana passada nos arredores de Damasco continua em cima da mesa de Barack Obama, apesar da falta de apoio do Parlamento londrino. 

O Presidente vai entretanto reunir o Conselho de Segurança Nacional para "discutir a utilização de armas químicas pelo regime de Assad a 21 de Agosto". E está marcada para a tarde desta sexta-feira uma declaração do secretário de Estado, John Kerry.  

De Berlim, mantém-se o tom: o Governo alemão exclui participar militarmente numa intervenção na Síria, embora apoie uma acção da comunidade internacional nesse sentido. Até agora, a Alemanha tinha deixado planar uma réstia de dúvidas sobre a sua eventual participação com meios militares na intervenção.

"Não nos pediram uma participaão, pelo que não a programámos nem vamos programar", declarou o porta-voz da chanceler Angela Merkel, numa das conferência de imprensa regulares do Governo, repetindo as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, numa entrevista que será publicada na sua versão integral no jornal regional Neue Osnabrücker Zeitung no sábado, adianta a AFP.

Sem unanimidade no Conselho de Segurança das Nações Unidas e enquanto se aguarda pelas conclusões dos inspectores da ONU que estiveram na Síria a tentar recolher elementos que confirmem ou não a utilização de armas químicas na guerra civil síria, os norte-americanos continuam mesmo assim à procura de uma coligação internacional que permita sustentar uma resposta, frisou o secretário da Defesa dos EUA, Chuck Hagel, que se encontra em deslocação oficial às Filipinas.

"É o objectivo do Presidente Obama e do nosso Governo... Seja qual for a decisão a tomar, ela deve resultar de um esforço internacional", declarou Hagel, citado pela AFP. E acrescentou: "A nossa posição é a de continuar à procura de uma coligação internacional que actue em conjunto. Já vimos alguns países expressarem a sua posição acerca do uso de armas químicas."

Em Londres, na quinta-feira à noite, o Parlamento rejeitou uma intervenção militar com 285 votos contra e 273 a favor da moção do Governo liderado por Cameron. Este reagiu com resignação, afirmando ter ficado "claro que o Parlamento britânico não quer" uma acção militar na Síria e que o executivo iria "agir em conformidade".

A proposta do Governo já tinha sido alterada por exigência da oposição trabalhista para assegurar que uma intervenção só aconteceria se os inspectores da ONU confirmassem o uso de armas químicas por parte do regime de Bashar al-Assad. Porém, depois de um longo debate, os deputados inviabilizaram a participação de forças britânicas numa intervenção mesmo que os inspectores da ONU, que estão na Síria até sábado, concluam que houve recurso a armamento químico.

O editor de política da BBC Nick Robinson comentava que "não há um precedente na era moderna de um primeiro-ministro perder controlo da sua política externa, muito menos em decisões sobre guerra e paz". O editor de diplomacia e defesa da emissora britânica, Mark Urban, lembrava que houve, todavia, dois precedentes de casos em que o Reino Unido se recusou juntar-se aos norte-americanos: nos anos 1960 durante a guerra do Vietname e nos 1990 na guerra da Somália. Mas - nota - em ambos os casos as decisões foram dos primeiros-ministros, Harold Wilson no Vietname, e John Major na Somália.

A acusação de que Assad usou armas químicas tornou mais provável uma intervenção internacional. Os EUA já afirmaram ter provas dos ataques, mas a Casa Branca também frisou que uma intervenção será limitada e não terá a dimensão do que aconteceu no Iraque.

O ministro da Defesa britânico, Philip Hammond, afirmou, citado pela BBC, ter esperança de que a intervenção seja levada a cabo por outros países. "Espero que os EUA e outros países continuem a avaliar as respostas a um ataque químico. Não espero que a falta de participação britânica vá impedir qualquer acção."
 
 

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