ONU pede formalmente à Síria para investigar ataque de quarta-feira

Nações Unidas reagem à pressão de países ocidentais e pediu permissão para visitar locais dos alegados ataques com armas químicas.

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Protesto à porta da sede das Nações Unidas Adrees Latif/Reuters

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu nesta quinta-feira à Síria que autorize os inspectores da ONU a investigarem o alegado ataque de quarta-feira com armas químicas, deixando-os visitar os arredores de Damasco, onde segundo a oposição a Bashar Al-Assad foram mortas mais de 1300 pessoas.

“O secretário-geral acredita que os incidentes noticiados ontem [quarta-feira] precisam de ser investigados sem demoras”, diz uma nota emitida pelo gabinete de imprensa de Ban Ki-moon, que vai enviar um pedido formal à Síria e espera uma resposta sem demoras.

O secretário-geral já pediu também à Alta Representante da ONU para o desarmamento que viaje para Damasco, a fim de pressionar as autoridades sírias. Peritos da ONU estão no país desde domingo, para investigar anteriores casos de suspeitas de uso de armas químicas.

Esta posição da ONU surge depois de 37 países, entre eles Portugal, Reino Unido, Estados Unidos e França, terem apelado à ONU para que os inspectores que estão na Síria tenham acesso urgente ao local onde a oposição a Bashar al-Assad diz que foram mortas mais de 1300 pessoas na quarta-feira.

O apelo dos 37 países foi enviado por escrito ao secretário-geral da ONU na quarta-feira à noite. Já nesta quinta-feira acentuaram-se as pressões de Reino Unido e França.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico disse à Reuters que continua a acreditar que “uma solução política é a melhor maneira de acabar com o banho de sangue” na Síria, mas também sublinhou que o primeiro-ministro, David Cameron, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, William Hague, “já disseram muitas vezes que não excluem nenhuma opção que possa salvar vidas inocentes na Síria”.

A posição britânica surge pouco depois de o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, ter exigido “uma reacção com força da comunidade internacional na Síria”, embora coloque de parte o envio de “tropas para o terreno”.

Também o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Ahmet Davutoglu, salientou a necessidade de agir. “Já foram ultrapassadas todas as linhas vermelhas e nem assim o Conselho de Segurança da ONU foi capaz de tomar uma decisão”, criticou Davutoglu, referindo-se à falta de consenso. A Rússia e a China, que sempre apoiaram o regime de Damasco, travaram uma posição mais forte, pelo que o Conselho de Segurança apenas exigiu uma “clarificação” sobre o que terá acontecido.

Segundo a oposição síria, os bombardeamentos de quarta-feira terão sido feitos com recurso a gás sarin e causaram 1360 mortos, incluindo muitas crianças. Terão acontecido em 11 localidades da região de Ghutta, nos arredores de Damasco, onde agora se pretende que possam ir os enviados da ONU, que entraram no país há três dias.

A Liga Árabe também pediu que essa autorização seja dada “imediatamente”. "A confirmarem-se estas informações, é um crime aterrador", declarou por seu lado a chanceler alemã, Angela Merkel.

Segundo a BBC, no entanto, não há qualquer sinal de que os peritos da ONU sejam autorizados a investigar e são escassas as possibilidades de conseguirem visitar os locais dos ataques. Noutras ocasiões, as negociações para obter permissão para visitas demoraram meses e, além disso, o subúrbio de Ghutta é disputado pelas forças de Assad e da oposição, pelo que é uma área insegura.

O site da televisão britânica salienta ainda que se realmente foi usado gás sarin, é necessário que os peritos cheguem rapidamente ao local dos ataques. Caso contrário, ao fim de alguns dias, os vestígios serão demasiado fracos para poderem ser usados como prova conclusiva.

Damasco, por sua vez, classificou os alegados ataques como "ilógicos e fabricados", tendo em conta que Assad permitiu, ao fim de quatro meses de negociações, a entrada de inspectores da ONU para investigarem a possível utilização de armas químicas em situações anteriores.

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