Pescanova garante que a unidade de Mira é viável

Gestão da multinacional galega alvo de críticas internas. Fábrica portuguesa, em Praia de Mira, assegura ter margem para crescer.

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A Pescanova garante a reintegração dos trabalhadores de Mira colocados em layoff no início do ano ADRIANO MIRANDA

A Pescanova Portugal assegura que o encerramento da unidade de aquicultura do grupo pesqueiro na zona de Mira (distrito de Coimbra) “não é um tema em cima da mesa” e garante que o investimento ali realizado pela multinacional galega continua a ser “viável”.

A reacção da empresa surge na sequência de um editorial assinado por Alfonso Paz-Andrade, antigo presidente-executivo da Pescanova, na revista Industrias Pesqueras, no qual o antigo gestor (e actual accionista da Pescanova) critica a gestão galega da fábrica de Praia de Mira. Paz-Andrade considera que o plano de negócios aplicado na unidade portuguesa (a Acuinova, a maior de criação de pregado a nível mundial) “teve um resultado inadequado”, fruto de “pouca visão” e de um “péssimo controlo interno e externo”.

Em reacção às críticas, o gabinete de imprensa da Pescanova Portugal diz que o comentário de Alfonso Paz-Andrade “foi descontextualizado”, sustenta que “há margem de crescimento no mercado” e diz não ser “lógico que o fecho da fábrica aconteça”.

O vice-presidente da Câmara Municipal de Mira, Miguel Grego, considera que a imprensa espanhola “nunca gostou que o investimento tivesse vindo para Mira, pois defendiam-no para a Galiza”, notando também “um revanchismo claro” e “um acertar de contas” de Alfonso Paz-Andrade por “não ter conseguido o investimento” para a comunidade autónoma espanhola.

“Estas guerras internas da Pescanova não têm reflexo dentro da fábrica de Mira”, afirmou Miguel Grego, que, apesar de “confiante”, apresenta alguma preocupação face à possibilidade de algumas notícias colocarem “pressão sobre os bancos” credores do grupo.

A unidade de aquicultura de Praia de Mira, que conta com cerca de 170 trabalhadores nos quadros, e um investimento inicial de cerca de 140 milhões de euros, teve problemas de funcionamento ao nível do emissário de recolha de água, que motivaram um processo de layoff de metade dos trabalhadores em Janeiro deste ano. Mais de 50 dos trabalhadores foram reintegrados em Julho, segundo Miguel Grego. Os restantes deverão ser reintegrados no final de Setembro.

O futuro do grupo pesqueiro espanhol deverá começar a ser conhecido e desenhado a partir do final deste mês, altura em que a Comissão Nacional de Mercado de Valores (CNMV) espanhola espera ter concluída a investigação à Pescanova.

Grupo refinancia dívida
A sobrevivência da empresa, em processo de insolvência, poderá obrigar a redimensionar o negócio ou a outras alterações. Como exemplo das mudanças, algumas das quais podem vir a ser aprovadas na reunião da assembleia geral marcada para 12 de Setembro, está a alteração à forma como as decisões passam a ser tomadas.

A presidente da CNMV, Elvira Rodríguez, deixou no final de Julho críticas à gestão de Manuel Fernández Sousa, o histórico líder da Pescanova que em Outubro será ouvido como arguido suspeito de falsificação de contas e crimes relacionados com a sua gestão da Pescanova.

Numa referência ao presidente demitido, Elvira Rodríguez afirmou serem precisas mudanças nas regras da governação da empresa – porque, até aqui, disse, “havia só um senhor que tomava decisões”.

O grupo conseguiu, em Junho, que um sindicato de sete bancos lhe concedesse um empréstimo que soma 52 milhões de euros, aos quais se junta um crédito de quatro milhões da Junta da Galiza.

A empresa deverá passar por um processo de recapitalização e eventual desinvestimento em alguns activos, para refinanciar uma dívida que se estima ultrapassar os 3280 milhões de euros, repartida entre uma centena de entidades financeiras.

A banca espanhola concentra a maior parte da dívida, com o Sabadell à cabeça (222 milhões de euros), Popular (165,5 milhões), Novagalicia Banco (161,58 milhões), Caixabank (157,44 milhões) e Bankia (126 milhões).

Vários bancos portugueses estão entre os credores da Pescanova, sendo o BPI o único que divulgou publicamente que teve de constituir provisões por causa de créditos concedidos à empresa, no caso de 35 milhões de euros.

Como o PÚBLICO noticiou, o grupo Caixa Geral de Depósitos, nomeadamente através da subsidiária espanhola, o Banco Caixa Geral, é o principal credor internacional da multinacional pesqueira. O BES confirmou que as contas foram afectadas por este caso, mas também não adiantou montantes. “Fomos apanhados na rede da Pescanova”, disse apenas o presidente do banco, Ricardo Salgado, na apresentação de resultados do primeiro semestre.
 
 
 
 
 
 

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