Bate-Chapas: uma oficina de fotografia à antiga

Chama-se Bate-Chapas e não tem nada a ver com carros ou beijinhos adolescentes. Em Alfama, fazem-se fotografias à antiga: impressas em alumínio numa performance de cortar a respiração

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Rui Gaudêncio

Face à actual "massificação da imagem", Steve Stoer e Nuno Marcelino viajaram no tempo. Ano: algures entre 1848 e 1910. Época de palavras — e de processos fotográficos — como ambrótipo e aluminótipo. De volta a 2013, na Rua do Salvador, berço de ofícios que duram até hoje, estacionaram uma máquina do tempo em plena Alfama. Não, não é o DeLorean DMC-12 do "Regresso ao Futuro". É uma oficina de retratismo oitocentista chamada Bate-Chapas. Apresenta-se como o "novo salão fotográfico mais antigo de Lisboa", e não é um paradoxo. Aqui, as fotografias são impressas em alumínio (para já) e destinam-se a "clientes sem pressa".  

Fotógrafo profissional desde 1996, Steve Stoer desatou a matutar nesta ideia no ano passado. "Desde que surgiu a fotografia digital, a profissão começou a tornar-se mais desinteressante", lamenta. Culpa da tal "massificação da imagem", em que quase parece que "a própria realidade só é confirmada através de uma imagem". Quando viu uma série de retratos de um fotógrafo californiano com estas técnicas do século XIX, decidiu "apostar num projecto diferente". Através de um amigo em comum, conheceu Nuno Marcelino, também fotógrafo, proprietário do bar (e não do filme) Marcelino Pão & Vinho, que fica precisamente na Rua do Salvador. Entre conversas, Steve falou-lhe deste projecto: "Ele ficou com um brilhozinho nos olhos." 

Há dois meses, depois de muito investigar e experimentar para dominarem as técnicas, conseguiram o espaço nesta rua, no meio de outras oficinas de olaria e ilustração. Na semana passada, a ideia tornou-se realidade. A oficina Bate-Chapas pretende ser o "extremo oposto" da fotografia digital — e é-o. "Não há app de smartphone que faça o que nós fazemos", clamam no apresentação do projecto. "As pessoas são fotogradas numa chapa e essa chapa é única e irrepetível", confirma Steve. Há um "cunho pessoal", impossível de controlar. "E as pessoas estão sempre à procura de coisas originais." O processo, da criação ao produto final, dura 30 minutos — os clientes assistem a tudo. São retratados e depois vêem a imagem a aparecer na revelação.

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Rui Gaudêncio

É um "ritual performático", brinca Steve. Não só porque todos os passos são explicados em pormenor, mas também porque o tempo de exposição de uma fotografia pode chegar aos 15 segundos. Logo, o cliente tem de respirar fundo, ficar imóvel e estar "focado", nos dois sentidos da palavra — também o fotógrafo só tem um disparo para conseguir um bom resultado. "Toda esta adrenalina também faz parte dessa performance."

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Rui Gaudêncio

Para já, a oficina só está a fazer aluminótipos, isto é, fotografias impressas em alumínio. Segue-se, dentro em breve, o ambrótipo, em que se usa o vidro. O espaço tem ainda para venda fotografias a preto e branco do próprio Steve, bem como "peças da época", de imagens antigas a artefactos de vidro, coleccionadas com vagar por João Cabral Pinto. "Tudo faz parte da mesma narrativa", conta. "Cada objecto tem uma história para contar, tal como este tipo de fotografia."

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Steve Stoer e Nuno Marcelino Rui Gaudêncio
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