Os primeiros a ter emprego em Londres são enfermeiros, financeiros e informáticos

Professores e artistas forçados a arranjar biscates.

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Em Londres, por vezes, os portugueses não se sentem mais felizes Reuters

Os enfermeiros, financeiros e engenheiros informáticos portugueses que emigram para Londres conseguem emprego no espaço de um mês, mas outros profissionais qualificados, como professores ou artistas, são forçados a arranjar biscates, apurou Cláudia Pereira, investigadora no âmbito de uma pesquisa académica de pós-doutoramento sobre a emigração portuguesa no Reino Unido.

"Os enfermeiros chegam já com emprego porque são recrutados em Portugal e os IT, [técnicos de tecnologias de informação] mesmo fora da área específica, conseguem encontrar [trabalho] no sector deles", revela Cláudia Pereira. O facto de Londres ser um dos principais centros financeiros mundiais atrai e absorve rapidamente muitos portugueses com qualificações para este ramo, como economistas, justifica.

Porém, também verificou que outros licenciados, como professores, nutricionistas, artistas de teatro, música, cinema ou dança, contabilistas, educadores de infância e assistentes sociais têm maior dificuldade em encontrar trabalho na sua área profissional. Muitos recorrem a empregos temporários em cafés, restaurantes ou museus para se sustentarem enquanto completam os processos administrativos para poderem exercer ou melhorarem o domínio da língua inglesa, permanecendo nestas funções durante meses ou mais de um ano.

"Desde 2009, 2010, após a crise na Europa, a emigração decresceu para países como Espanha e Suíça, mas aumentou para o Reino Unido e é actualmente o sítio na Europa para onde estão a emigrar mais portugueses", afirmou Cláudia Pereira que decidiu centrar o seu estudo nos profissionais qualificados.

Doze mil novos portugueses por ano
De acordo com as estatísticas do Ministério do Trabalho britânico, as inscrições na segurança social, essencial para todos os candidatos a emprego no país, desde 2007 que registam uma média anual de cerca de 12 mil novos portugueses.

Porém, em 2011 este valor disparou para 16,35 mil, um aumento de 26%, e só no primeiro trimestre de 2012, o período mais recente disponível, foram confirmadas 5,42 mil novas inscrições de portugueses para trabalhar.

Além de uma abordagem quantitativa, Cláudia Pereira, que é formada em Antropologia, pretende usar métodos sociológicos. Por isso fez dezenas de entrevistas na capital britânica a vários portugueses que emigraram, alguns dos quais acompanhou ainda antes da partida de Portugal.

"Os qualificados normalmente emigram porque não têm trabalho na sua área profissional, como os enfermeiros, ou porque querem progredir na carreira e ter novas experiências que não sentem ter em Portugal, como os financeiros e engenheiros informáticos", adianta.

Cláudia Pereira encontrou vários casos de insucesso e regresso a Portugal por falta de adaptação ou por fracasso no mercado de trabalho, por vezes com a situação agravada porque acumularam dívidas com os custos elevados de transportes e alojamento em Londres.

Noutras situações, o sucesso e realização profissional não preenchem o vazio deixado pela distância da família, amigos e do país, relatou a investigadora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, e que tem uma colaboração com a universidade de Southampton, em Inglaterra.

"Saíram de casa dos pais, vivem em casa com outras pessoas, viajam muito mais, mas todos eles frisaram que não sentem ser mais felizes do que os colegas que ficaram em Portugal porque estes têm churrasco ao domingo e têm os amigos ao pé", conclui.

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