Novo Presidente do Irão diz que Israel é uma "ferida" no Médio Oriente

Televisão iraniana corrigiu frase atribuída ao Presidente eleito no dia em que os iranianos saem à rua em solidariedade com a Palestina. Primeiro-ministro israelita diz que Hassan Rohani "mostrou a sua verdadeira face"

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Rohani participou nas manifestações, dois dias antes da tomada de posse Atta Kenare/AFP

A dois dias de tomar posse, o Presidente eleito do Irão classificou o Estado de Israel como “uma ferida” no Médio Oriente. Uma primeira versão das suas declarações – em que era referida a necessidade de “remover” essa ferida – levou o Governo israelita a dizer que Hassan Rohani demorou menos tempo do que o esperado a revelar “a sua verdadeira face”.

“Há anos que há uma ferida no corpo do mundo muçulmano, sob a sombra da ocupação da terra santa da Palestina e da nossa amada Al-Quds [Jerusalém]”, disse Rohani, segundo imagens divulgadas pela televisão estatal Press TV, assegurando as declarações do Presidente tinham sido “distorcidas”.

Pouco antes, a agência semi-oficial ISNA emitiu um despacho, citado depois pela imprensa internacional, em que atribuída a Rohani a seguinte frase: “O regime sionista é uma ferida que resiste há anos no corpo do mundo muçulmano e que precisa de ser removida”. O Irão não reconhece o Estado de Israel, mas a afirmação não só contradizia as promessas de diálogo e moderação que fez durante a campanha para as presidenciais – em que bateu à primeira volta os candidatos da ala conservadora – como soava idêntica às diatribes sobre Israel do seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad.

A frase fez de imediato manchete nos sites da imprensa em Israel, país preocupado com o entusiasmo com que o Ocidente acolheu a eleição de Rohani, acreditando que a sua chegada à presidência pode marcar um novo início nas negociações sobre o programa nuclear iraniano.

“A verdadeira face de Rohani foi revelada mais cedo do que esperávamos. É isto que ele pensa e é este o plano de acção do regime iraniano”, reagiu o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que tem insistido junto de americanos e europeus para que não abandonem a política de sanções adoptadas nos últimos anos. Apesar do discurso de campanha, “o objectivo do regime iraniano de adquirir armas nucleares para ameaçar Israel, o Médio Oriente e a paz e segurança no mundo não mudou”, sublinhou Netanyahu.

Desde 1979 que o Irão celebra na última sexta-feira do mês sagrado do Ramadão, o Dia Internacional de Al-Quds. As ruas enchem-se de marchas exigindo o fim da ocupação israelita e o regresso de todos os palestinianos às suas terras de origem.

Num outro comício, também em Teerão, o ainda Presidente Ahmadinejad voltou a usar a retórica contra Israel que o tornou célebre. “Digo-vos, com Alá por minha testemunha, que uma tempestade devastadora vai arrancar as bases do sionismo”, afirmou o líder ultraconservador, ovacionado por milhares de apoiantes, sublinhando que “Israel não tem lugar na região”. Acusou ainda os países ocidentais de fomentarem a instabilidade no Egipto e a guerra civil na Síria. “Sempre foi o seu sonho verem a vontade dos países da região destruída [por Israel] e mergulhando na guerra civil”.

Notícia actualizada às 15h48
 

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