Rajoy decreta três dias de luto após descarrilamento que fez 80 mortos em Santiago de Compostela

Número de mortos sobe para 80. Há ainda mais de 140 feridos, 36 em estado grave, incluindo quatro crianças. Há cinco passageiros em estado de coma. É o pior acidente em 40 anos em Espanha. Comboio seguiria a quase 200 quilómetros por hora, numa zona limitada a 80, perto de Santiago de Compostela.

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O primeiro-ministro Mariano Rajoy visitou o local com a ministra da Economia, Ana Pastor, e o presidente da Junta da Galiza, Alberto Núñez Feijóo REUTERS/Eloy Alonso
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O acidente é o terceiro mais grave da história ferroviária em Espanha e o primeiro com mortes nas linhas de alta velocidade do país REUTERS/Eloy Alonso
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Comboio fazia a ligação entre Madrid e Ferrol Óscar Corral/Diario El País
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Nesta imagem é possível ver como uma das carruagens galgou o muro e voou até à estrada Óscar Corral/Diario El País
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Equipas de socorro continuam no local do acidente MIGUEL RIOPA/AFP
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MIGUEL RIOPA/AFP
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Zona é considerada de acesso difícil MIGUEL RIOPA/AFP
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As vítimas foram assistidas no local REUTERS/Xoan A. Soler/Monica Ferreiros/La Voz de Galicia
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Passageiro ferido é acompanhado por um polícia Oscar Corral/Reuters
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Uma grua retira uma das carruagens do local do acidente REUTERS/Miguel Vidal
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No comboio Alvia, de transição entre a linha convencional e a de alta velocidade e que pode alcançar os 200 quilómetros por hora, viajavam mais de 200 passageiros REUTERS/Eloy Alonso

Um comboio descarrilou nesta quarta-feira, próximo da estação de Santiago de Compostela, na Galiza, Norte de Espanha. O acidente provocou, pelo menos, 80 mortos, segundo números citados por diferentes jornais espanhóis.

De acordo com o La Voz de Galicia, o último balanço das autoridades aponta para 140 feridos. Inicialmente dezenas de pessoas estavam por identificar mas as autoridades já têm os dados de todos os feridos. Segundo o El País, o Tribunal Superior de Justiça da Galiza confirmou que 58 das 80 vítimas mortais já foram identificadas. A lista completa com a identifcação dos mortos será divulgada pelas 22h locais (21h em Lisboa), adianta o mesmo jornal.

As equipas de resgate que continuam a trabalhar no local, só ao final de algumas horas, já durante a noite, conseguiram utilizar uma grua para chegar a um dos vagões que tinha sido esmagado por outro.

Foi nesse vagão que foram encontrados mais dez cadáveres, mas não se descarta que com a continuação dos trabalhos possam ser encontrados mais corpos, apesar de fontes das equipas dizerem que os vagões mais afectados já foram todos revistados. A Catalunha também já disponibilizou para ajudar a Galiza, nomeadamente enviando equipas de médicos forenses que possam colaborar na identificação das vítimas mortais.


A partir das 7h30 locais (6h30) de Portugal continental, os corpos das vítimas mortais começaram a ser levados pelos serviços de emergência para os hospitais da zona para a realização das autópsias. Segundo o Tribunal Superior de Justiça do país, 73 óbitos foram declarados no local do acidente e quatro já nas unidades hospitalares. Um deles permanece por esclarecer.


Entretanto, o Presidente da Xunta da Galiza, Alberto Núñez Feijoó, decidiu declarar sete dias de luto para esta comunidade autónoma. Duas horas depois do acidente, cerca das 23h, Nuñez Feijoó, avançava o primeiro balanço de vítimas: 56 mortos, um número que tem vindo sempre a subir e que já confirmou ter chegado aos 78.

Núñez Feijoó esteve no local do acidente já com o Presidente do Governo espanhol. Uma porta-voz da Moncloa, sede do Governo, tinha feito saber ainda na quarta-feira que Mariano Rajoy visitaria nesta quinta-feira a zona. A Xunta da Galiza convocou reunião extraordinária do conselho. Entretanto Rajoy fez saber que assinará logo que possível um decreto para estabelecer três dias de luto nacional.

No local, durante toda a noite, além das equipas de resgate oficiais, as pessoas da vizinhança mobilizaram-se para ajudar as autoridades madrugada dentro. No caso dos feridos com menos gravidade mas que necessitavam de assistência hospitalar, foram alguns particulares que os transportaram nos seus próprios carros.

No comboio viajavam 222 pessoas. No momento do acidente, às 20h41, estava a chegar a Santiago de Compostela e fazia a ligação de Madrid à cidade costeira de Ferrol, na Corunha. O acidente ocorreu em Angrois, freguesia que fica a quatro quilómetros da estação de Santiago.

Os serviços de saúde galegos, perante o elevado número de feridos, fizeram um apelo à população para que fosse doar sangue com urgência, já que as reservas poderiam ficar rapidamente em causa. Contudo, o número de pessoas a reagir foi de tal forma elevado que os locais de recolha se viram obrigados a pedir que alguns dos cidadãos voltassem antes na manhã desta quinta-feira.

O balanço da tragédia tem sido revisto. Mas sejam quais forem os números finais, é o pior em 40 anos em Espanha. As dez carruagens acabaram todas fora dos carris. Pelo menos uma delas foi esmagada. As primeiras fotografias e imagens de vídeo são elucidativas. Vêem-se corpos junto à linha, retirados do interior do comboio.

Excesso de velocidade?

A ligação Madrid-Ferrol é feita pelo Alvia, que tem a particularidade de poder usar a bitola internacional (utilizada no sistema de alta velocidade em Espanha, o AVE) e a bitola ibérica. No troço do acidente, a velocidade máxima permitida é de 80km/h. Há fontes anónimas citadas nos jornais que garantem que o comboio seguia em excesso de velocidade. O maquinista, que sofreu ferimentos ligeiros, admitiu que "entrou forte" na curva, que é bastante acentuada. 

O El País, já nesta quinta-feira, assegura que um dos maquinistas, logo no primeiro contacto após o acidente e ainda dentro da cabine, antes de saber se havia vítimas, repetia “somos humanos, somos humanos”, acrescentando que lhe doíam as costas. “Espero que não haja mortos porque isso cairia na minha consciência”, acrescentou, descrevendo que entraram na curva onde só se podia circular a 80 quilómetros por hora a uma velocidade superior a 190 quilómetros por hora.

O maquinista que seguia no momento do acidente aos comandos do Alvia, Francisco José Garzón Amo, foi entretanto chamado para ser interrogado na condição de arguido. Entretanto o secretário-geral do sindicato de maquinistas (Semaf) de Espanha, Juan Jesús García Fraile, defende que o acidente se deve a “um conjunto de circunstâncias” e que é preciso esperar para tirar conclusões. O responsável salientou que o maquinista estava há três anos a trabalhar na Corunha nos serviços de longa distância e que está na profissão desde antes de 2000. Por seu lado o presidente da Renfe, salientou que o maquinista de 52 anos operava naquela linha há mais de um ano.

Porém, segundo a conversa apurada pelo mesmo jornal, o maquinista não terá adiantado se o excesso de velocidade teria sido um erro humano ou se tinha existido qualquer tipo de falha técnica que tivesse impedido a composição de reduzir velocidade antes da curva, visto que há muito pouco tempo para reduzir a velocidade dos normais 200 quilómetros por hora para os recomendados 80.

Aliás, o jornal lembra que a curva é conhecida de quem faz habitualmente a viagem entre Madrid e Ferrol, já que aquando da inauguração do novo traçado (a 10 de Dezembro de 2011), precisamente naquela curva, o comboio balançou, visto que até chegar a este local desde Ourense que são cerca de 80 quilómetros praticamente rectos. Esta é também uma das poucas zonas em que o AVE circula num troço que não é totalmente independente – uma opção que foi feita para evitar mais expropriações quando se acrescentou a linha de alva velocidade.

A Renfe confirmou que o comboio circulava com um atraso de cinco minutos, mas não comentou a possibilidade de seguir em excesso de velocidade para compensar o tempo perdido. A responsável pela rede ferroviária espanhola disponibilizou anda um número para informações sobre mortos e feridos (+34900101660), assim como Santiago criou três linhas (+34981551100, +34981543060 e +34981542993) para informações sobre o acidente.

As causas oficiais não são conhecidas. O Governo de Mariano Rajoy – ele próprio natural de Santiago de Compostela – descarta um eventual atentado. Contudo, foi aberto um inquérito ao caso e no local, enquanto decorrem as operações, está uma equipa alargada de peritos a recolher dados e provas. Algumas fontes da Renfe, citadas pelo La Voz de Galicia, adiantaram que as caixas negras do comboio podem ajudar a explicar as causas do acidente do comboio com oito vagões, além da cabeça e cauda – onde seguem os maquinistas.

Além disso, o presidente da Renfe, Julio Gómez-Pomar Rodríguez, à agência espanhola Efe, adiantou que a linha onde aconteceu o acidente tinha precisamente sido alvo de uma revisão na manhã de quarta-feira. Por seu lado, a rádio Cope diz que a “caixa negra” já está nas mãos das autoridades judiciais que vão conduzir a investigação do acidente.

Entretanto a Renfe já colocou em andamento um plano alternativo para as ligações ferroviárias que estavam a ser afectadas por este acidente.

Também o Papa Francisco, que se encontra numa visita oficial ao Brasil, já reagiu ao acidente de Espanha, convidando todos a rezarem pelas vítimas e suas famílias. Numa conferência de imprensa, o seu porta-voz, o padre Federico Lombardi, adiantou que o Papa tinha apelado a um minuto de silêncio pelas vítimas e que a partir da sua residência estaria “unido à dor das famílias”. Depois, fez um telefonema directo para o presidente da Conferência Episcopal de Espanha, Rouco Varela, para expressar directamente as suas condolências, adianta a cadena SER.

 

Festejos na Galiza suspensos

O local é descrito pelos jornais espanhóis como sendo de difícil acesso. O acidente aconteceu na véspera do dia da Galiza. Os festejos foram suspensos.

Segundo o jornal El País, este é o pior balanço de acidentes ferroviários em 40 anos. O último mais grave registou-se em Albacete, em 2003, uma colisão frontal que fez 19 mortos.

Uma das carruagens saltou dos carris, sobrevoou um muro com seis metros de altura e aterrou numa rua adjacente à linha ferroviária. Houve uma explosão, segundo testemunhos recolhidos no local. Há imagens que mostram fumo negro.

Este é o terceiro acidente ferroviário grave em Julho. No dia 7, um comboio de carga, que transportava combustível, descarrilou no Canadá e houve explosões. Balanço: 50 mortos. Cinco dias depois, a 40 quilómetros de Paris, morreram seis pessoas noutro descarrilamento. 
 
 

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