A escolha do curso

Iniciou-se o processo de candidatura ao ensino superior que se prolongará por algum tempo e a questão em torno da escolha do curso reentra na agenda embora, provavelmente, muitos dos alunos tenham a decisão tomada. A imprensa tem dedicado um espaço significativo a esta matéria um espaço significativo sublinhando a diminuição das vagas disponíveis, sobretudo no politécnico, embora se mantenha ainda uma enorme e diversificada oferta.

O Ministério da Educação e da Ciência decidiu assumir finalmente um papel regulador da oferta, ainda que não o tenha feito da melhor maneira como também tem sido assinalado por responsáveis do ensino superior, designadamente reitores e presidentes de institutos politécnicos, e procurou corrigir os fortíssimos enviesamentos verificados, com consequências quer ao nível da qualidade da formação – quantidade é pouco compatível com qualidade –, quer da empregabilidade. As próprias instituições procederam por iniciativa própria a alguns ajustamentos na sua oferta.

Recordo um relatório da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior que mostrava, dados de 2011, uma taxa de 69,79% de preenchimento de vagas, sendo que da análise a 71 áreas de estudo concluiu-se que em 80% existe excesso de oferta. O relatório, encomendado pelo Conselho de Reitores, apontava a óbvia necessidade de racionalização da rede. De há muito que defendo este entendimento. Na verdade, o ensino superior em Portugal tem como uma das questões estruturais o sobredimensionamento da rede.

No entanto, do meu ponto de vista, para além da imprescindível racionalização da rede, envolvendo ensino superior universitário e politécnico, público e privado, coloca-se sempre o problema da escolha e dos critérios a considerar em caso de dúvidas. Algumas notas, sublinhando desde logo a importância da formação qualificada que nunca é demais enfatizar num país em que os níveis de qualificação de nível superior são insuficientes.

No que respeita à escolha do curso, a questão mais colocada pode ser assim enunciada, os jovens deverão seguir a sua motivação e interesse ou a escolha deve obedecer ao que se conhece do mercado de trabalho, isto é, nível de empregabilidade e saídas profissionais?

Para muitos de nós, provavelmente, a resposta será fácil, seja num sentido ou no outro. Alguns dirão que cada jovem deve, obviamente, seguir o seu desejo, o seu gosto, só assim se realizará. Ideia romântica e sem noção da realidade que corre o sério risco de desembocar no desemprego, dirão outros, para os quais a escolha deve ser racional, pragmática, realista, o jovem deve procurar uma formação que lhe garanta, tanto quanto possível, saída profissional e para isso deve "estudar" o mercado e assim proceder à escolha. Os primeiros acharão que este entendimento pode levar a um risco de frustração e desencanto que podem instalar-se em quem "faz o que não gosta".

Na verdade não será fácil a escolha para muitos jovens a que acresce, frequentemente, a pressão familiar ou de outras pessoas para a "escolha acertada".

Dito isto, sou dos que entendem que cada um de nós deve poder escrever, tanto quanto as circunstâncias o permitirem, a sua narrativa, cumprir o seu sonho. Por outro lado, a vida também nos ensina que é preciso estar atento aos contextos e às condições que os influenciam, sabendo ainda a volatilidade e rapidez com que hoje em dia a vida acontece e rápida variabilidade dos mercados de trabalho.

Nesta perspectiva, parece-me importante que um jovem, sabendo o que a sua escolha representa, ou pode representar, nas actuais, sublinho actuais, condições do mercado de trabalho, faça a sua escolha assente na motivação ou no projecto de vida que gostava de construir e, então, informar-se sobre as opções, sobre as escolas e respectivos níveis de qualidade a que pode aceder para se qualificar.

Finalmente, do meu ponto de vista, boa parte da questão da empregabilidade, mesmo em situações de maior constrangimento, relativiza-se à competência, este é o ponto fulcral.

Na verdade, o que frequentemente me inquieta é a ligeireza com que algumas pessoas parecem encarar a sua formação superior, assumindo logo aqui uma atitude pouco "profissional", cumprem-se os serviços mínimos e depois logo se vê. O caso recente que envolveu Miguel Relvas é apenas um exemplo extremo deste entendimento, a formação, mais do que um imprescindível conjunto de saberes e competências, passa a ser apenas um título académico que se cola ao nome.

Mesmo em áreas de mais baixa empregabilidade, ou assim entendida, continuo a acreditar que, apesar dos maus exemplos que todos conhecemos, a competência e a qualidade da formação e preparação para o desempenho profissional, são a melhor ferramenta para entrar nesse "longínquo" mercado de trabalho.

Dito de outra maneira, maus profissionais terão sempre mais dificuldades, esteja o mercado mais aberto ou mais fechado.

Boa sorte e boa viagem para todos os que vão iniciar agora esta fase fundamental nas suas vidas.

José Morgado é professor universitário no ISPA - Instituto Universitário

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