Cavaco, o primeiro Presidente a pisar a Selvagem Pequena, a pegar num calca-mar e a anilhar uma cagarra

Primeira etapa da visita às Ilhas Selvagens entusiasmou o chefe de Estado, especialmente pelos encontros com algumas aves locais.

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Carlos Lopes

O Presidente da República começou na manhã desta quinta-feira a cumprir parte dos objectivos que traçou nesta sua visita às Ilhas Selvagens.

A primeira etapa, dedicada à preservação ambiental, foi vencida às primeiras horas do dia e entusiasmou Cavaco Silva, especialmente graças ao contacto directo com duas das aves que nidificam no subarquipélago: o calca-mar e a famosa cagarra.

Depois da viagem agitada por um mar um pouco batido que dificultou a navegação do bote dos fuzileiros na ligação entre a fragata Vasco da Gama e a Selvagem Pequena, Cavaco Silva tornava-se no primeiro Presidente a pisar o solo daquela ilha, como, aliás, tinha lembrado aos jornalistas numa conversa informal tida de madrugada. Mário Soares (1991) e Jorge Sampaio (2003) apenas se ficaram pela Selvagem Grande.

Com a maré a meio, o chefe de Estado não teve dificuldades em saltar para terra. Pouco depois, num outro bote, chegava Alberto João Jardim e o representante de República na Madeira, Ireneu Cabral Barreto.

“Nunca tinha pisado esta ilha”, afirmou Jardim. “E o senhor Presidente pisou-a primeiro do que eu”, acrescentou, talvez com um pingo de ciúme.

Mas o que começou por entusiasmar o Presidente da República foram as explicações dadas por Paulo Oliveira. O director do Parque Natural da Madeira lembrou que a Selvagem Pequena era a mais antiga reserva natural do país (1971), que ali nunca tinha havido intervenção humana negativa e que naqueles 20 hectares de terra e rocha vulcânica existem 11 espécies de aves que não existem em mais nenhum local.

“Além das cagarras?”, perguntou o Presidente. “Além das cagarras”, garantiu o director do parque.

Paulo Oliveira pediu depois especial cuidado a toda a comitiva na deslocação que se iria fazer a caminho das casas dos guardas de vigilância da ilha, que, naqueles cerca de 150 metros, ninguém se desviasse do trilho. Qualquer desvio poderia significar a destruição de um ninho.

A meio caminho a primeira surpresa da manhã. O director do parque parou, baixou-se, enfiou a mão num buraco e da areia tirou um pequeno calca-mar, uma das espécies em maior número nas ilhas. Logo depois passou-o para a mão de Cavaco Silva, que, sorridente, a mirou com um olhar deliciado e a exibiu aos jornalistas.

Depois da visita à casa dos guardas havia mais uma surpresa guardada para o ilustre visitante. Nova caminhada curta e nova paragem, desta vez frente a alguns ninhos de cagarras. Finalmente, as célebres cagarras.

O Presidente foi então informado que iria anilhar uma ave. O director do parque adiantou alguns detalhes sobre o animal, explicou que o macho e a fêmea se alternavam a chocar os ovos, o que motivou nova pergunta do Presidente: “É sempre o mesmo parceiro?” “Sempre o mesmo”, explicou Paulo Oliveira.

Mas era chegado o momento do anilhamento - uma forma de conhecer o paradeiro da ave para fins científicos.

Ao Presidente cabia a anilha L88327 e ficaria “para sempre ligado à ave”, já que, sempre que ela fosse encontrada por um investigador e identificada numa base de dados, apareceria o local onde nidificou e o seu anilhador, neste caso o Presidente da República Portuguesa. Uma espécie de “padrinho” do animal, como lembrou o director.

A primeira tentativa não correu bem. Paulo Oliveira conseguiu retirar um animal do ninho, mas este já estava anilhado. “Azar, já tem anilha”, disse o director. E voltou a colocá-lo no sítio. “Boa sorte, cumprimentos ao teu companheiro”, desejou-lhe Cavaco Silva.

A segunda tentativa correu melhor, o animal retirado não estava anilhado e o chefe de Estado acabou por mostrar destreza na arte. “O senhor Presidente tem a certeza que é a primeira vez que está a fazer isto?”, perguntou o director. Era.

O Presidente deu mais umas voltas na ilha e lá acabou por voltar ao mar, desta vez com destino ao navio oceanográfico Gago Coutinho, que levou a comitiva para a Selvagem Grande.

A bordo assistiu à descida do ROV Luso ao mar, um veículo de operação remota com capacidade de mergulhar a seis mil metros de profundidade, e a um briefing sobre a extensão da Plataforma Continental e a Estratégia Nacional para o Mar.

Ainda antes de sair da Selvagem Pequena brincou com os jornalistas que ficavam para trás esperando pelos seus botes, garantindo-lhes que não ficariam ali abandonados.
 
 
 
 
 

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