Apaguem as luzes, "liguem" as plantas

Um empresário e dois investigadores juntaram-se para criar árvores capazes de iluminar as ruas. Uma ideia muito ao estilo de Pandora, a cidade dos seres azuis que pode ser vista em "Avatar"

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Imaginem o que seria uma árvore brilhante capaz de substituir os postes eléctricos. É caso para dizer, apaguem as luzes e "liguem" as plantas.

Esta ideia romântica e arrojada é de Antony Evans, um empresário da área da tecnologia que dá voz ao projecto “Glowing Plants” – Plantas Brilhantes. O primeiro passo: criar uma planta capaz de brilhar naturalmente. Para isso, Evans, conta com ajuda de dois investigadores: o bioquímico Omri Amirav-Drory, fundador e director executivo da empresa Genome Compila, e Kyle Taylor, um especialista em biologia molecular e celular, que ficará responsável por inserir o DNA sintético na planta.

A planta que servirá de cobaia na investigação é a Arabidopsis thaliana, uma espécie da família da mostarda, usada frequentemente em estudos de plantas em laboratório.

A segunda etapa é desenvolver uma rosa capaz, também ela, de brilhar. Para criar estas plantas, os promotores do projecto terão que recorrer a uma forma de engenharia genética, a biologia sintética. Através do programa da empresa Genome Compila desenham-se as sequências genéticas, ou gene, que serão inseridos no genoma da planta. O gene dá a instrução para a produção da proteína luciferina e a enzima luciferase, o resultado é a planta luminosa.

Na esperança de concretizar a ideia, os promotores, lançaram a proposta no site Kickstarter. O objectivo inicial era angariar 65 mil dólares, perto de 50 mil euros, mas, terminado o prazo, receberam mais de 484 mil dólares.

O conceito torna-se ainda mais interessante tendo em conta que o grupo do projecto está a desenvolver todo o trabalho de uma forma pouco habitual. As plantas bioluminescentes estão a ser criadas “num biolaboratório do tipo faça-você-mesmo, na California”, afirma Evans, no site Kickstarter.

Num momento inicial, os objectivos passam por criar uma planta que possa ser vista no escuro, mas refere não esperar "substituir as lâmpadas às quais estamos habituados já na versão 1.0”. No entanto, na página oficial do projecto, Glowing Plant, pode perceber-se que a ambição é maior quando afirmam que “o segundo objectivo é criar árvores que possamos utilizar para substituir as luzes de rua”.

Apesar de admitirem que o projecto cumpre os requisitos das agências federais que regulam organismos modificados geneticamente nos Estados Unidos, há quem critique o projecto e se preocupe com as consequências que possam dele advir. É o caso de duas organizações ambientais, a Friends of the Earth e o Grupo canadiano ETC, que redigiram uma carta dirigida a Antony Evans com o intuito de travar o projecto.

Argumentam que o que o líder do projecto propõe “resultará na liberação generalizada, aleatória e descontrolada de plantas e sementes modificadas pela bioengenharia e produzidas por técnicas controversas e arriscadas da biologia sintética”. E, acrescentam, “essas formas de vida estão vivas, viáveis, a reproduzirem-se e os seus comportamentos fora do laboratório são, neste momento, impossíveis de prever”.

Esta não é a primeira experiência deste género. Em 2010, investigadores da Universidade Stony Brook anunciaram, na revista PLoS One, que através do uso de genes de uma bactéria marinha que emite luz, tinham produzido uma planta de tabaco que brilhava, embora de forma discreta. Ou o recente caso das ovelhas fluorescentes, no Uruguai. Neste caso, o gene inserido deriva de uma medusa e as ovelhas só brilham quando há luz ultravioleta sobre elas.

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