Luis Bárcenas admite autoria da contabilidade paralela do PP

Personalidades do partido espanhol terão transmitido a Bárcenas propostas para o seu silêncio, garantindo-lhe que o processo desapareceria em Setembro.

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Rajoy (esq.) e Bárcenas no centro da polémica Javier Soriano/Pedro Armestre/AFP

O ex-tesoureiro do Partido Popular (PP) espanhol, Luis Bárcenas, admitiu em tribunal a autoria dos "papéis" manuscritos que registam os movimentos financeiros de uma contabilidade paralela, que a cúpula conservadora imediatamente disse desconhecer. "O PP ratifica uma vez mais a legalidade das suas contas. Qualquer outro papel, em qualquer formato, será da exclusiva responsabilidade do seu autor", reagiu o vice-secretário dos conservadores, Carlos Floriano.

É a guerra aberta e declarada entre o partido e Luis Bárcenas, que está a ser ouvido há mais de três horas na Audiência Nacional. Segundo informaram fontes judiciais à agência Efe, o ex-tesoureiro não só confirmou ao juiz a autenticidade do material que já está na posse do tribunal -- cadernos manuscritos com as anotações das entradas e saídas de dinheiro -- como ainda entregou outros documentos que alegadamente comprovam que as doações feitas ao partido por baixo da mesa eram utilizadas em pagamentos a políticos conservadores.

Numa curta resposta às revelações de Bárcenas em tribunal, o PP desvinculou-se completamente do seu antigo funcionário, a quem chamou "delinquente". "Não interessa o que ele diga: as contas do PP são claras e estão à disposição de quem as quiser ver. Ele [Luis Bárcenas] é que está na cadeia e ele é que tem de explicar a origem do seu dinheiro na Suíça", contra-atacou Floriano.

Classificando as declarações de Bárcenas como "chantagem", o vice-secretário do PP garantiu que os conservadores não têm "nada a temer" nem "nada a ocultar".

Esta manhã, o diário <i>El Mundo</i> publicou mais revelações sobre o caso, aumentando as suspeitas sobre altos líderes do PP e sobre o primeiro-ministro Mariano Rajoy -- que mantém o silêncio sobre o caso e esta manhã recebeu o seu homólogo da Polónia, Donald Tusk.

O jornal revelou uma conversa entre uma importante personalidade do PP, Javier Iglesias Redondo (“pessoa da maior confiança do aparelho do PP”) e Bárcenas na prisão onde este está detido porque o juiz considerou haver sério risco de fuga e destruição de provas na investigação sobre a existência de uma contabilidade paralela e financiamento ilegal do partido.

“Se falas, a tua mulher irá para a prisão. Se te calares, Alberto Ruiz-Gallardón [o ministro da Justiça] será destituído no último Conselho de Ministros antes das férias e o teu assunto será arquivado em Setembro por nulidade”, terá dito Redondo a Bárcenas, que foi funcionário do PP durante mais de 20 anos.

A mesma mensagem foi levada a Bárcenas por Miguel Durán, ligado ao PP e ex-director-geral da Organização Nacional de Cegos (ONCE) e empresário dos media, que terá afirmado mesmo que a mensagem vinha de Mariano Rajoy. Durán, que em 1997 foi imputado por delito fiscal e apropriação indevida quando esteve à frente da Telecinco - mas foi ilibado - já negou que tivesse levado qualquer mensagem a Bárcenas.   

"O PP não teve nenhum contacto com o senhor Bárcenas. Tudo o que se publicou esta manhã é radicalmente falso", sublinhou Carlos Floriano. "Nem o presidente do Governo nem o partido vão aceitar a chantagem do senhor Bárcenas, um presumível delinquente que está na cadeia pela sua implicação no caso Gürtel e pela sua incapacidade em explicar os milhões que tinha na Suíça", reforçou.

A notícia destas ofertas surge um dia depois do mesmo El Mundo ter publicado mensagens que tinham sido trocadas entre o ex-tesoureiro e o primeiro-ministro espanhol – apesar de Rajoy ter vindo a negar contactos recentes com Bárcenas – que provam que o chefe de Governo pediu silêncio ao antigo tesoureiro.

A oposição pediu já a demissão do chefe de Governo, Mariano Rajoy diz que se manterá no cargo.

A “número dois” do Governo, Soraya Sáenz de Santamaría, já veio assegurar que o Executivo “não está preocupado com as declarações de Bárcenas”. E bateu ainda na tecla da separação entre Bárcenas e o partido de que este foi tesoureiro: “Não há negociações com Bárcenas, a prova é que ele está preso”.

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