Situação precária

A solução preconizada pelo senhor Presidente da República não foi bem acolhida nos mercados de capitais. Na quinta-feira, o PSI20 desvalorizou mais de 2%, com as acções da banca a serem especialmente penalizadas, ao mesmo tempo que aumentaram os juros implícitos da dívida pública portuguesa.

O principal risco associado à falta de entendimento político estará na subida dos juros implícitos da dívida pública, que deteriorará os balanços dos bancos portugueses, penalizando as condições de financiamento existentes no País. Segundo: a deterioração do risco de crédito da República tornará o regresso independente de Portugal às emissões de dívida pública improvável, e insustentavelmente oneroso. Terceiro: em face da expectável escassez de financiamento, e do natural afastamento de potenciais credores e investidores externos, a austeridade orçamental agravar-se-á – na forma de uma redução forçada da despesa do Estado, na forma de uma tentativa desesperada de aumentar as receitas fiscais ou, pior ainda, de ambas em simultâneo. A espiral recessiva, na qual a economia portuguesa mergulhou, tornar-se-á assim inquebrável.

Portugal mantém ainda parte significativa do desequilíbrio macroeconómico e financeiro que conduziu ao pedido de auxílio externo. O equilíbrio da balança corrente é precário e decorre essencialmente do desemprego, do seu impacto na contracção da procura interna, e da redução das importações. A reduzida produtividade, fruto de uma especialização em actividades de baixo valor acrescentado, permanece baixa face à Europa. E o investimento, cuja existência é crucial para aumentar a produtividade – o verdadeiro indutor do tão apregoado “crescimento” –, é a rubrica do PIB que mais tem contraído (menos 17% no primeiro trimestre deste ano face ao período homólogo).

Quanto à dívida pública, esta permanece insustentável. O reescalonamento dos reembolsos dos empréstimos externos, já em curso, intensificar-se-á no futuro próximo, tanto junto de credores ditos oficiais como de privados. Mas uma crise política prolongada, como aquela que hoje paira sobre os portugueses, poderá marcar a diferença entre 1) a necessidade de simplesmente prolongar os reembolsos dos empréstimos, e adiar algum pagamento de juros, ou; 2) a impossibilidade de sequer os reembolsar, pregando o calote aos credores e inviabilizando o refinanciamento futuro da dívida. No primeiro cenário, poderemos talvez ambicionar uma redução dos impostos; no segundo cenário, sem acesso ao financiamento externo e sem capital interno, mergulharemos numa espiral recessiva ainda mais diabólica – com enorme prejuízo para o País

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Economista

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