Um dia com Diana e Parkie

Diana e Parkie, amigos de "couchsurfing", têm 60 anos de diferença e estão a atravessar Portugal juntos. Teresa Pacheco Miranda filmou-os no Porto. A própria Diana resumiu o dia

Cada dia no Porto é um dia de novas paixões. Apaixono-me sempre que cá venho. E isso não quer dizer que a paixão dos dias anteriores desapareceu. Estou a falar de um sentimento que se vai acumulando.

No dia anterior a chegarmos ao Porto eu estava nervosa. Estava com medo de não conseguir mostrar ao Parkie o que é o Porto, o que ele significa para mim. A verdade é que não estou a precisar de falar muito, o Porto não precisa de muitas explicações porque é fácil de entendê-lo. E isso não quer dizer que é uma cidade simples. É antes uma cidade que fala por si, em que a comida diz muito, as ruas velhas contam muito e as pessoas gritam hospitalidade.

Ontem passámos grande parte do dia ali pela Ribeira. Passamos pelo rés-do-chão de uma casa e encontramos um senhor a fazer barcos de madeira à mão. Contava-nos ele que sempre tinha sido pescador, mas que há um ano teve um derrame e então nunca mais foi para o mar. Não pode porque se lhe acontece alguma coisa em alto mar não tem ajuda. Então passa os dias em volta dos seus barcos de madeira, de domingo a domingo, de forma a atenuar as saudades que tem do mar. E diz que o negócio está muito mau, que teve de baixar o preço de um barco que lhe tomou dois meses de trabalho para 300 euros.

É disto que falo, é isto que me arrepia e faz a voz tremer. Gente que não nada em dinheiro, gente que trabalha muito para pôr pão na mesa, homens e mulheres que sabem melhor do que ninguém o que a vida custa. Pessoas de um coração enorme, sem fundo, que fazem barcos para que possam continuar a navegar nos seus sonhos, na esperança de que amanhã venha algum turista e leve o barco que tomou dois meses de trabalho por 300 euros. Dois meses de trabalho e muito amor por 300 euros.

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