CDS exige mais poder para segurar Governo

Pedro Passos Coelho e Paulo Portas voltam a encontrar-se na manhã desta quinta-feira. Cavaco recebe primeiro-ministro às 17h.

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Pedro Passos Coelho e Paulo Portas Daniel Rocha

Novas caras, novas políticas e novo equilíbrio de poderes na coligação, com o CDS a ganhar mais peso. As cartas de Paulo Portas estão em cima da mesa para as negociações com Passos Coelho. Até ao desfecho das conversações os ministros do CDS mantêm-se no Governo.

Pedro Passos Coelho e Paulo Portas encontraram-se na quarta-feira à noite no Palácio de São Bento. O encontro foi descrito à agência Lusa por uma fonte governamental como "muito construtivo". Segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, a primeira reunião dos dois líderes partidários centrou-se mais em questões de princípios do que propostas concretas e as negociações estão bem encaminhadas, embora nada esteja ainda fechado.

Uma das mudanças desejadas pelo CDS é a reformulação do Ministério da Economia, que os centristas sempre defenderam que deveria ter mais peso no Governo.

Os líderes do PSD e do CDS/PP estão novamente reunidos nesta quinta-feira, desta vez na Presidência do Conselho de Ministros.

Às 17h, o primeiro-ministro será recebido por Cavaco Silva, na habitual reunião das quintas-feiras.

A Presidência da República tinha anunciado também para hoje reuniões com os partidos, mas a agenda de Cavaco Silva, revelada a meio da tarde de quarta-feira, não constavam as reuniões com os partidos com representação parlamentar. Fonte da Presidência afirmou ao PÚBLICO que estes encontros acontecerão amanhã.

Passos Coelho e Portas tentam agora um acordo que possa segurar o Governo. O CDS repete que a demissão de Portas como ministro é "irreversível", mas os altos dirigentes esperam que ele seja candidato a líder no congresso, que vai mesmo realizar-se neste fim-de-semana. Ontem à tarde, na reunião da cúpula do partido, Portas ouviu críticas da maior parte dos dirigentes desagradados com as consequências para o país.

Na reunião da executiva, Portas não foi poupado pela maioria dos seus colaboradores mais próximos, quase todos apanhados de surpresa pelo pedido de demissão. Teresa Caeiro (vice-presidente) Telmo Correia (vice da bancada), Adolfo Mesquita Nunes e Filipe Lobo d’Ávila, ambos secretários de Estado, terão sido críticos da forma como o líder do CDS actuou nos últimos dias, segundo relatos feitos ao PÚBLICO. E houve mesmo quem apontasse a decisão de Portas como "um erro".

Muitos centristas compreendem, no entanto, as razões invocadas por Portas para alegar a sua impossibilidade de continuar. É pouco ouvido por Passos Coelho nas decisões estratégicas do Governo e essa era precisamente a sua justificação para ser membro do Governo. O líder do CDS "está farto de ser tratado como o presidente de uma distrital do PSD e de receber ordens", diz uma fonte centrista.

Passos: a culpa é de Portas
Do lado do PSD, colaboradores próximos de Passos Coelho estavam ontem entre o chocado e o furioso com Paulo Portas, vendo o pedido de demissão como um acto infantil, intempestivo e que não mediu as consequências do risco de um segundo resgate financeiro.

O próprio Passos Coelho não poupou o parceiro de coligação, em declarações em Berlim, após uma conferência europeia sobre emprego. "Os portugueses não perceberiam que, por meras preferências quanto a nomes para pastas do Governo, se colocasse em risco tudo o que foi feito ao longo dos últimos dois anos e, sobretudo, que se pusesse em risco a possibilidade de fechar o Programa de Assistência Económica e Financeira", afirmou o primeiro-ministro.

Reiterando a disponibilidade para criar condições de estabilidade dentro da coligação, Passos dramatizou e disse não acreditar que o país não "esteja interessado em saber qual é o resto do filme" por não ter havido uma solução rápida para o impasse político.

Ao longo do dia houve já vários contactos entre colaboradores próximos tanto do PSD como do CDS, e à noite os dois líderes começaram a negociar novos termos para um entendimento, mas todos os cenários estão em aberto. Desde uma nova orgânica de Governo até um mero acordo parlamentar, tudo é possível, segundo fontes centristas.

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