Exército egípcio aperta o cerco à Irmandade Muçulmana

Líder do movimento islamista preso e acusado de incitação à violência. Irmandade pede aos seus apoiantes que saiam à rua para uma "Sexta-Feira de Rejeição"

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Apoiantes da Irmandade Muçulmana impedido de se manifestar por militares Asmaa Waguih/Reuters

Menos de 24 horas depois de ter deposto (e colocado sob custódia) o Presidente Mohamed Morsi, o Exército egípcio lança-se contra a Irmandade Muçulmana. O líder do movimento islamista, Mohamed Badie, foi detido e há notícias de que foram emitidos 300 mandados de captura contra outros membros da Irmandade, que convocou para amanhã uma “Sexta-feira de Rejeição” do golpe militar.

Segundo a agência Reuters, Badie foi detido nesta quinta-feira em Marsa Matrouh, cidade da costa mediterrânica próxima da fronteira com a Líbia, onde na noite passada quatro pessoas morreram durante confrontos entre apoiantes e opositores da Irmandade.

Fontes da segurança egípcia dizem, no entanto, não ter informações de que o dirigente islamista pretendesse deixar o país. Segundo a procuradoria, Badie e o seu “número dois”, Khairat al-Shater, são acusados de incitação à violência – em causa a reacção da Irmandade ao ataque contra o seu quartel-general, no domingo à noite, após um dia de grandes manifestações contra Morsi.

Pela manhã, um dos porta-vozes do movimento tinha já dito à BBC que “toda a equipa presidencial” tinha sido detida pelos militares, incluindo o presidente e o vice-presidente do Partido Liberdade e Justiça, a ala política da Irmandade que saiu vencedora das primeiras legislativas democráticas realizadas no Egipto. No total, afirmou Gehad el-Haddad, cerca de 300 militantes e dirigentes do movimento foram detidos ou são procurados.

Quanto ao Presidente deposto, as últimas informações referem que está sob detenção, no Ministério da Defesa, e que está a ser investigado por “insultos ao sistema judicial”.

Em simultâneo, todas as estações próximas do movimento deixaram de emitir e o jornal ligado ao partido islamista revelou que a gráfica estatal recusou imprimir a sua edição desta quinta-feira, noticiou a BBC.

Irmandade rejeita " terror de um Estado policial"
O cerco ao movimento, até à semana passada descrito como o mais poderoso e bem organizado do Egipto, coincidiu com a tomada de posse do líder do Supremo Tribunal, Adly Mahmud Mansour, como Presidente interino. No seu primeiro discurso, Mansour elogiou a acção do Exército – os militares são "a consciência da nação e o garante da sua protecção e segurança” –, mas estendeu um ramo de oliveira aos islamistas, dizendo que “são parte do povo e devem participar na construção da nação”.

Uma oferta que não obteve resposta. “A Irmandade Muçulmana rejeita o terror de um Estado policial que prende figuras da confraria e do seu partido”, lê-se no mesmo comunicado em que o movimento anuncia a formação de uma “Coligação Nacional em Apoio da Legitimidade” e pede aos seus apoiantes que saíam em grande número e de “forma pacífica” às ruas para uma “Sexta-feira de Rejeição” contra o afastamento  do Presidente.

Apesar do reforço da presença militar, milhares de apoiantes da Irmandade continuam concentrados junto à mesquita Rabia el Adawiya, na zona leste do Cairo, rodeados por milícias armadas com escudos e capacetes, escreve a AFP, antecipando aquele que poderá ser um dos próximos cenários de confrontação. Em várias outras partes da capital, vários apoiantes do Presidente deposto saíram à rua para concentrações que foram rapidamente dispersadas pelos militares.

Foi numa declaração quarta-feira à noite, que o chefe do Estado Maior egípcio anunciou a deposição de Mohamed Morsi, a suspensão da Constituição de cariz islamista e a marcação de eleições presidenciais antecipadas. A chefia do Estado passou temporariamente para as mãos do presidente do Tribunal Constitucional, estando prevista a criação de um governo de tecnocratas para gerir o país até ser eleito um novo Presidente.

A notícia foi aplaudida pelas centenas de milhares de pessoas que, desde domingo, enchiam a Praça Tahrir do Cairo, exigindo o afastamento de um Presidente a quem acusavam de ter iniciado um processo de islamização do Egipto, de concentrar uma série de poderes e de ter decalcado formas de repressão do regime de Mubarak.
 
 
 
 

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