A juventude das imagens

"Geração Invisível – Os Novos Cineastas Portugueses" é uma antologia de artigos de vários autores sobre realizadores que se têm vindo a afirmar no panorama nacional

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Nelson Garrido
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Em 1963, um Paulo Rocha de vinte e poucos anos lançava "Verdes Anos", o filme que anunciava o Novo Cinema Português, rompendo com as comédias ligeiras e pastelões históricos do Estado Novo, e insuflando em Portugal as novas correntes do cinema que iriam perdurar até aos dias de hoje.

Cinquenta anos depois, um livro editado por Ana Catarina Pereira e Tito Cardoso e Cunha olha para a nova geração de cineastas portugueses à procura dos sinais da mudança que estes estão a trazer para o cinema português.

"Geração Invisível – Os Novos Cineastas Portugueses" é uma antologia de artigos de vários autores sobre realizadores que se têm vindo a afirmar no panorama nacional, como Catarina Ruivo, Sandro Aguilar, Rodrigo Areias (na foto), João Salaviza, Marco Martins, João Pedro Rodrigues, etc. E não deixa de ser curioso verificar que – numa altura em que o cinema português obtém cada vez mais reconhecimento internacional e se vê estrangulado financeiramente – alguns realizadores continuam a filiar-se na tradição do Cinema Novo, como é o caso de João Salaviza, Miguel Gomes e João Nicolau, enquanto outros revelam influências do cinema de género norte-americano, como a curta de zombies "I’ll See you In My Dreams", de Filipe Melo, "Coisa Ruim", de Tiago Guedes e Frederico Serra, o western "Estrada de Palha" de Rodrigo Areias, ou os filmes de Vicente Alves do Ó.

O próprio percurso dos realizadores é cada vez mais divergente, com alguns a aprender o seu ofício em escolas do cinema, ao passo que outros se formam na publicidade, no vídeo musical ou na televisão. E carreira e reconhecimento de quase todos constrói-se cada vez menos nas salas de cinema e cada vez mais na realização de curtas e nos festivais internacionais – de que o Curtas Vila do Conde foi o grande motor.

Mas nuns e noutros é clara a filiação numa tradição cinematográfica. Ao contrário de parte do cinema dos anos 60, que se renovou explorando as paisagens e rituais do país profundo, estes realizadores são cada vez menos portugueses e mais universais, olhando o mundo através do filtro do cinema que lhes chega dos quatro cantos da Terra. Muitas das suas imagens são citações, alusões ou provocações a outras imagens pré-existentes, refletindo, assim, que as imagens se tornaram o ecossistema do humano, e que é sobre elas que construímos as nossas aspirações e entendimento da realidade, ou, como afirma Gilles Lipovetski em "O Ecrã Global", são elas hoje, mais verosímeis do que a própria realidade.

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