Membro da Cúria romana detido por suspeitas de corrupção

Monsenhor Nunzio Scarano, funcionário do organismo que gere os bens da Santa Sé, é acusado de ter tentado levar de volta para Itália 20 milhões de euros depositados por amigos na Suíça.

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As detenções desta sexta-feira no Vaticano decorrem de uma investigação lançada em 2010 Max Rossi/Reuters

Um alto funcionário da Cúria romana, um membro dos serviços secretos italianos e um corrector financeiro foram detidos, nesta sexta-feira, no âmbito de investigações da justiça italiana ao Instituto para as Obras Religiosas (IOR) – o banco do Vaticano.

Ao contrário do inicialmente avançado pela imprensa italiana, Nunzio Scarano não é bispo de Sarlerno, mas membro da Administração do Património da Sede Apostólica (APSA), entidade que gere os bens da Santa Sé.  Segundo informação prestada à Reuters pelo seu advogado, Silverio Sica, o prelado foi detido numa paróquia dos arredores de Roma.

Segundo a televisão Sky TG-24, Scarano teria feito um acordo com o funcionário dos serviços secretos italianos Giovanni Maria Zito para trazer da Suíça 20 milhões de euros em notas, que pertenceriam a amigos seus, num jacto privado. Como pagamento por este serviço, Zito teria recebido 400 mil euros, acrescenta o Corriere della Sera. Os três homens poderão ser acusados por fraude e corrupção.

Scarano é visado num outro inquérito, desencadeado pelo Ministério Público de Salerno, por lavagem de dinheiro e levantamentos suspeitos no valor de 560 milhões de euros. Suspeitas que levaram o Vaticano a suspendê-lo de funções.

As detenções, por ordem do Ministério Público de Roma, de um filão independente de uma vasta investigação lançada pela Justiça italiana em 2010 ao IOR, por suspeita de violação da legislação contra branqueamento de capitais.

A investigação inicial visava o então presidente do IOR, Ettore Gotti Tedeschi, e o director-geral, Paolo Cipriani, entretanto afastados. Eram suspeitos de terem omitindo nomes de envolvidos em transacções financeiras consideradas suspeitas pelas autoridades. Por causa dessas transacções, 23 milhões de euros foram congelados.

Ao longo dos anos, a reputação do IOR foi abalada por escândalos, entre os quais os que levou, em 1982, à falência do  Banco Ambrosiano, do qual era accionista. O Vaticano tem vindo a reforçar os mecanismos de controlo do IOR.

O conselheiro da Autoridade de Informação Financeira (AIF) que supervisiona o IOR, o suíço René Brülhart, referenciou seis transacções suspeitas em 2012. O novo presidente do instituto, o alemão Ernst von Freyberg, nomeado poucos dias antes da demissão do Papa Bento XVI, encarregou a agência norte-americana de consultadoria financeira Promontory de verificar uma a uma as contas do IOR, calculadas em 19 mil e pertencentes maioritariamente a membros do clero.

Há dois dias o Papa Francisco criou uma comissão especial para acompanhar a actividade do instituto que responde apenas perante si próprio.

O Instituto para as Obras Religiosas é uma instituição privada com sede da Cidade do Vaticano, fundada em 1942 pelo Papa Pio XII.
 
Actualizada e corrigida: Corrige informações iniciais segundo as quais Scarano era bispo de Salerno.
 
 
 
 
 
 

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