Super-herói Dexter

Para "serial killer", Dexter é muito pouco credível. Vários especialistas já apontaram que a personagem demonstra demasiada empatia para com os outros

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Hannibal Hanschke/Reuters

É este mês que estreia nos Estados Unidos, a temporada oito e final da série de televisão Dexter. Baseada nos livros de Jeff Lindsay, também publicados em Portugal, a série ganhou notoriedade, e polémica, pelo retrato benévolo que faz do seu protagonista homónimo, um "serial killer" que só assassina outros "serial killers", pela sua violência estilizada e pela sua apologia do “vigilantismo”, a aplicação da justiça pelas próprias mãos.


Para "serial killer", Dexter é muito pouco credível. Vários especialistas já apontaram que a personagem demonstra demasiada empatia para com os outros, demasiado método nos seus crimes, e demasiada consciência e contenção para ser um dos sociopatas que derivam prazer sexual e sádico na violência sexual e na morte.


De facto, a personagem, com todo o carisma que o actor Michael C. Hall lhe dá, assemelha-se mais aos protagonistas da ficção "noir" e dos super-heróis. A sua compleição atlética, as competências de combate e o raciocínio rápido aproximam-no dos segundos, ao passo que os ambientes sórdidos, a sua visão pessimista do homem, o esboroar das fronteiras entre o bem e o mal e o vazio existencial fazem dele um Sam Spade pós-moderno, para quem a justiça já não é um ideal fútil, mas uma precaução para justificar o prazer sensual da matança.


No entanto, é curioso perceber que a evolução da personagem Dexter ao longo das últimas sete temporadas se assemelha também ao crescimento de um adolescente do sexo masculino, que do prazer individual imediato e da obediência a um modelo paterno vai ganhando subtileza nos sentimentos e nos gostos, aprendendo a integrar-se na sociedade, a lidar com as frustrações, a lidar com o sexo oposto, a assumir compromissos e responsabilidades e a questionar o código de vida que o pai lhe dissera ser o único possível e verdadeiro.


Talvez seja esta combinação de pessimismo social e busca da identidade individual que tenha feito o sucesso da série, numa altura em que os indivíduos olham cada vez mais para si, em busca das respostas que não encontram na sociedade.

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