Leymah Gbowee: “Temos de continuar a tentar mudar o mundo”

Em 2011, Leymah Gbowee partilhou o Nobel da Paz com a Presidente do seu país, Ellen Johnson-Sirleaf, e a iemenita Tawakkol Karman

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Shannon Stapleton/Reuters

A liberiana Leymah Gbowee, Nobel da Paz 2011, foi uma das convidadas nas sessões plenárias desta segunda-feira na Convenção da Rotary International, que se realiza em Lisboa até quarta-feira.

O discurso da escritora e activista foi direito àquilo que é uma das mensagens principais desta organização não governamental, fundada nos Estados Unidos em 1905, que junta 1,2 milhões de pessoas em mais de 200 países, dos quais 320 mil na Europa – a de que “quando as pessoas se juntam, tudo é possível”.

No seu país, a Libéria, Leymah Gbowee juntou e mobilizou mulheres num movimento que levou os homens a aceitarem um acordo de paz. O movimento por ela liderado pôs fim à segunda guerra civil liberiana em 2003. Muito antes disso, em 1989, a primeira guerra chegara à capital, Monróvia, onde Leymah Gbowee vivia, quando ela tinha 17 anos.

Sobre essa guerra, durante a qual trabalhou como assistente social, costuma dizer que a transformou “de criança em pessoa adulta em poucas horas”.No seu livro de memórias Mighty Be Our Powers: How Sisterhood, Prayer and Sex Changed a Nation at War (Que Seja Nosso o Teu Poder, Temas e Debates), escreveu: "Aos 17 anos, não estamos habituados a pensar na morte, sobretudo na nossa. Mas, agora, ela estava em todo o lado e eu era obrigada a pensar que podia chegar a qualquer momento.”

No discurso de entrega do Nobel, dedicou o prémio “às mulheres em geral, mas em particular às africanas”.

Leymah Gbowee tem-se dedicado, através da fundação que criou e a que preside – Gbowee Peace Foundation Africa – a “concretizar o desejo de muitas meninas africanas de irem à escola”. 

Em Lisboa, quis deixar essa mensagem de que as pessoas, quando se juntam e se envolvem, podem agir melhor. Recordou a vida na aldeia onde cresceu na Libéria e onde a comunidade era como uma grande família. “As crianças eram celebradas por todos e disciplinadas por todos. O problema de uma pessoa era o problema de todos”, conta frente a uma plateia meia cheia de membros da Rotary International, no Pavilhão Atlântico em Lisboa.

Algo que, diz, se foi perdendo. “O nosso mundo está agora de pernas para o ar. Padecemos de um mal e esse mal é o individualismo”, afirmou.

Os jovens crescem com o objectivo de serem ricos, disse. E aprendem isso dos adultos. Jovens e adultos, afinal, comunicam como se nunca tirassem os auscultadores dos ouvidos, lamentou.

“Esta atitude individualista levou a muitos problemas no nosso mundo. Se nos envolvermos, como a minha mãe e a minha avó se envolviam nos assuntos da comunidade, o mundo será um lugar melhor. Os valores morais e sociais estão a desintegrar-se. O tecido comunitário foi destruído. As pessoas não se envolvem”, acrescentou.

“Mas, enquanto houver crianças que não podem ir à escola, temos de mudar o mundo e, para isso, temos de nos envolver. É o que faço.” E é o conselho que deixa: “Sair da sombra, fazer algo pela comunidade, deixar um legado.”
 
 

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