Snowden aterrou em Moscovo e o seu destino é a Venezuela

EUA tinham pedido às China para deter o consultor da CIA que revelou o sistema de vigilância norte-americano de comunicações privadas. Saiu de Hong Kong num voo para a Rússia, mas o seu destino final é a Venezuela, diz a Aeroflot

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Cartaz de apoio a Snowden em Hong Kong, onde ele esteve até hoje Philippe Lopez/AFP

Aterrou em Moscovo o avião em que viaja Edward Snowden, o ex- consultor informático da CIA que revelou a existência do sistema de vigilância norte-americano de comunicações privadas de emails e telefones nos EUA e em todo o mundo. A Venezuela será o seu destino final, após uma passagem por Cuba, confirmou a Aeroflot, a companhia aérea na qual viaja, acompanhado de membros da Wikileaks.

Edward Snowden, de 30 anos, deixou Hong Kong, onde se encontrava desde dia 20 de Maio, ainda na manhã deste domingo. No sábado, os Estados Unidos tinham solicitado formalmente às autoridades da região administrativa especial de Hong Kong a detenção e extradição de Snoweden. Hong Kong diz que os documentos norte-americanos não respeitavam todas as regras necessárias.

À espera do avião em que Snowden viaja estavamvárias carrinhas com a identificação da presidência russa, relata o jornal britânico "The Guardian". Segundo a agência Itar-Tass, diplomatas venezuelanos escoltaram-no para fora do avião e levaram-no numa dessas carrinhas. O próximo voo do norte-americano para Caracas só parte amanhã, ele terá de passar uma noite em Moscovo.

Washington não tem acordos de extradição com a Rússia, mas assinou acordos deste tipo com Cuba e Venezuela. Mas são pactos antigos, disse ao jornal britânico Douglas McNabb, de uma empresa de advogados especializada em extradições: os de Cuba datam de 1904 e1905 e os da Venezuela de 1922 e 1923. E as relações dos EUA com estes dois países não são as mais amigáveis, antes pelo contrário.

A Wikileaks diz que Snowden saiu de Hong Kong legalmente e que está a ajudá-lo em termos legais. Divulgou um curto comunicado oficial confirmando o seu envolvimento, no caso, em que diz que Snowden está a viajar com "diplomatas e conselheiros legais da Wikileaks".

O comunicado cita também o ex-juiz espanhol Baltasar Gárzon, cujos serviços Julian Assange, o líder da Wikileaks, refugiado na embaixada do Equador em Londres há perto de dois anos para evitar ser extraditado para a Suécia (onde as autoridades o querem interregar devido a suspeitas de agressões sexuais). "A equipa legal da Wikileaks e eu estamos interessados em preservar os direitos do senhor Snowden e em protegê-lo. O que está a ser feito contra os senhores Snowden e Assange - por fazerem ou facilitarem revelações de dados no interesse público - é um ataque contra os cidadãos." Não é no entanto esclarecido se Gárzon está a viajar com Snowden ou se estará em Cuba ou Caracas à sua chegada.

O analista informático que trabalhava para a CIA e revelou a existência do programa PRISM aos jornais The Guardian e The Washington Post tinha dito que não se importava de ser julgado em Hong Kong, mas também tinha adiantado em algumas entrevistas que não se importaria de pedir asilo às autoridades de outros países, como a Islândia.

Em reacção a estas declarações, ainda em meados de Junho, um porta-voz do Presidente Russo, Vladimir Putin, não excluiu a possibilidade de o país acolher Snowden, caso esse pedido viesse a acontecer. Porém, na altura a declaração do Kremlin foi mais vista como uma jogada para criar embaraços à Administração Obama.

No sábado, segundo as informações avançadas pelo jornal The Washington Post, as autoridades de Hong Kong receberam a ordem de detenção de Edward Snowden.Os procuradores dos Estados Unidos acusam o antigo funcionário da CIA violação da lei da espionagem, roubo de propriedade do Governo e revelação de informação classificada, depois de ter fornecido várias informações aos dois jornais. As acusações acarretam uma pena acumulada de até 30 anos de prisão.

A Administração Obama condenou a divulgação das informações por parte destes jornais, com o Presidente dos Estados Unidos a defender a legalidade e utilidade dos programas em curso, garantindo que apenas visam garantir a segurança do país e dos cidadão, bem como dos países aliados, e que não violam a vida privada de ninguém.

Snowden assumiu a responsabilidade pela divulgação das informações sobre os programas de vigilância interna da Agência Nacional de Segurança, justificando que não quer viver num mundo em que se exploram este tipo de informações. A fuga de informação expôs a existência do programa PRISM, através do qual a agência norte-americana recolhe dados de empresas de telecomunicações, como a Verizon, e de gigantes tecnológicos, como a Microsoft, Apple, Google e Skype e ainda de redes sociais, incluindo o Facebook.

Além do Facebook, algumas das empresas referidas já vieram afirmar que não deram acesso directo aos dados dos seus clientes mas avançaram com informações com base no que a lei norte-americana determina. Segundo Snowden, a Agência de Segurança "construiu uma infra-estrutura que lhe permite interceptar quase tudo”, como obter informação relativa a emails, palavras-passe, registos telefónicos ou cartões de crédito.

Também a Microsoft confirmou que recebeu 6000 a 7000 pedidos de dados relativos a universo de 31 mil a 32 mil contas por parte das autoridades dos Estados Unidos. O vice-presidente da Microsoft, John Frank, citado pela BBC, considera que o Departamento de Justiça e o FBI devem tomar medidas que ajudem a esclarecer a opinião pública sobre questões como o acesso a dados pessoais em redes sociais ou em empresas. “A transparência por si só pode não ser suficiente para restaurar a confiança do público, mas é um bom ponto de partida”, defendeu.

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