Ministério não anula exame de Português, mas permite que alguns que o fizeram o repitam

Solução já foi aplicada a uma escola de Braga que foi invadida por alunos, no dia da prova, e implica que o primeiro exame seja anulado.

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Perto de 18 mil alunos (24% dos inscritos) não conseguiram fazer o exame na segunda-feira Adriano Miranda

O Ministério da Educação e Ciência vai dar a oportunidade aos 184 alunos que na segunda-feira fizeram exame de Português do 12.º ano na Escola Sá de Miranda, em Braga, de repetir a prova no dia 2 de Julho. Contudo, quem optar por essa solução terá de anular o primeiro exame, que nem sequer será corrigido, confirmou ao PÚBLICO o director da escola, Fausto Farinha. Esta possibilidade, que deverá ser aproveitada por cerca de 30% dos alunos, ocorre numa das escolas do país em que se registaram incidentes, na sequência de protestos de estudantes que se viram impedidos de fazer o exame, devido à greve de professores.

“Num momento em que já ouvimos a quase totalidade dos 184 estudantes, apenas cerca de 30% preferiram repetir a prova no dia 2, a par dos que não a conseguiram fazer no dia 17”, disse ao PÚBLICO o director da Sá de Miranda. Fausto Farinha escusou-se a comentar a situação, que, frisou, “resulta de decisão do Ministério da Educação e não da direcção da escola”.

Na segunda-feira, em escolas de todo o país, parte dos alunos fez exame e outra parte ficou de fora, por não haver professores em número suficiente para assegurar a vigilância em todas as salas. Ao todo, foram cerca de 18 mil os jovens que não conseguiram fazer exame.

Na Secundária Sá de Miranda, em particular, 184 alunos entraram nas salas e 186 ficaram à porta. Pouco depois, alguns jovens, indignados com a alegada falta de equidade provocada pela situação, invadiram os corredores e as salas, cantando a Grândola, fazendo barulho e tentando arrastar para fora da sala os colegas que faziam a prova, relataram testemunhas. No fim, todos protestavam: uns por não terem tido a oportunidade de fazer exame, outros porque, diziam, não tinham tido condições para o fazer com tranquilidade.

Contactada pelo PÚBLICO, Sara Ferreira, presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Sá de Miranda, considerou a solução do ministério acertada. "O exame não devia ter começado, sequer, sem haver garantias de que todos os alunos o podiam fazer. Ou, então, devia ter sido anulado de início, que foi o que reclamámos, na nossa escola. Agora, dadas as circunstâncias, entre o que foi feito e o que não foi feito, esta é a melhor maneira de diminuir a injustiça", disse. Sublinhou, contudo, que, na sua perspectiva, "a falta de equidade já não pode ser reparada".

Outras denúncias
Face a situações semelhantes noutras escolas do país e a denúncias de outro tipo de irregularidades, o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, considerou insuficiente a marcação de nova data, 2 de Julho, para a realização do exame por parte daqueles que não o puderam fazer no dia 17 e reclamou a anulação da prova, para garantir a equidade entre todos os alunos.

Quarta-feira, em entrevista à RTP1, o ministro da Educação, Nuno Crato, disse que aquela solução estava “fora de causa”. Admitiu, contudo, que alguns alunos pudessem ter realizado a prova em condições anormais e prometeu que o Júri Nacional de Exames iria decidir “o mais depressa possível” sobre esses casos.

Nesta sexta-feira, o Jornal de Notícias adianta que na Escola Secundária Mário Sacramento, em Aveiro, e na Alves Martins, em Viseu, vários estudantes que se sentiram lesados por situações semelhantes às ocorridas em Braga estão a reclamar, junto do Júri Nacional de Exames, a repetição da prova.

Mário Lavrador, director da Secundária Mário Sacramento, disse ao PÚBLICO, esta sexta-feira, que ainda não obteve resposta da tutela à reclamação de cinco dos 16 alunos que ali fizeram exame, mas que pretendem repeti-lo no dia 2 por, alegadamente, não lhes terem sido garantidas condições para o realizarem com tranquilidade no dia 17.

O mesmo argumentam dois dos alunos da Secundária Alves Martins, de Viseu, que, segundo o director, Azevedo Pinto, também ainda não obtiveram indicação de qual a decisão do Júri Nacional de Exames.

Notícia actualizada às 12h20: acrescenta informação sobre as queixas de alunos de Aveiro e Viseu. E às 13h27: acrescentada declarações da presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Sá de Miranda.

 

 
 

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